Às vezes gostava de ser um parafuso.
Autores: Mikael Wulff e Anders Morgenthaler
Não serei certamente a única. Nem sou nem de perto a pior. Sou até das pessoas mais práticas e pragmáticas que conheço. No entanto, acontece. Quando estou mal, estou mal. Quando estou bem, lembro-me que me estou a esquecer do que está mal.
Creio que é falha humana, fomos mal programados. Gostava de pôr as preocupações e sonhos inalcançáveis no pasta da reciclagem e esvaziá-la. Gostava de pôr o lado lunar no vidrão e deixar que a Sociedade Ponto Verde tomasse conta do assunto. Gostava de embrulhar os medos com papel colorido do Toys'R Us e oferecê-los a outra pessoa que quisesse lidar com eles. Pois. Ninguém. Mas eu também não gosto de receber bombons com recheio de licor no Natal e aceito-os com delicadeza.
E quando estou a tentar entrar no modo carpe diem (porra para quem inventou isso) e tenho uma Mariazinha vestida de branco a usar auréola à direita a dizer "aproveita" e a outra Mariazinha de vermelho e pequenos chifres de vermelho no ombro esquerdo - não estou a tentar fazer nenhuma analogia política - a dizer "não te estás a esquecer disto?", gostava mesmo, mesmo de ser um parafuso. Ou um vaso de flores. Ou a página de um livro. Ou o atacador de um ténis. Qualquer coisa menos eu.