Caçadoras de Sonhos #1
"querida maria das palavras (são todas, só verbos, só adjectivos?):
venho pelo presente contar-te o meu sonho na ânsia que me possas ajudar a saber se posso dele retirar um significado:
eu estava a apresentar um livro que escrevera. era um livro de contos infantis e estava repleto de gente. acontece que o auditório onde decorria a apresentação não tinha pessoas comuns com os seus filhos mas sim todos os meus professores universitários, que me olhavam com atenção. quando eu acabei o meu discurso um deles estendeu o dedo e perguntou: mas acha que essa história reflete o pensamento do legislador no que a isso diz respeito?
quando ele acabou de falar eu percebi que não sabia a resposta e que nem sequer me lembrava da história que escrevera pelo que comecei a gaguejar. nesse instante fui salva pelo gongo: as portas do auditório abriram entrando um político conhecido que se virou para o meu professor e exclamou:
- isso, pois isso é só fazer as contas.
acontece que o político era nada mais nada menos que jóse socrates, com uma camisola cinzenta, algemado, que começou a correr em volta do palco gritando "mesmo preso faço jogging, ouviram?.
nessa altura acordei e no dia a seguir, ao ver a tv, descobri que a medida de coação dele tinha sido alterada para prisão domiciliária.
ando num frenesim. terei capacidades adivinhatórias?
agradeço a tua resposta.
beijos."
Minha querida M.J., não se apoquente, que vamos já desfazer este puzzle.
A primeira interpretação que faço é que a menina é preguiçosa. Não vi isto num elemento do sonho, mas sim no facto de não usar maiúsculas. Não cumprir as regras da escrita é uma coisa, não usar a capital para me nomear já roça a infâmia.
Os sonhos refletem medos ou desejos e há, de forma muito óbvia, três desejos latentes na sua descrição: (1) o desejo de ter filhos, (2) o desejo de comer queijo e o libidinoso (3) desejo por Sócrates.
- Apresenta um livro de contos infantis como expressão da sua vontade de um puto ranhoso a quem ler estórias. A minha afirmação é suportada pela científica expressão: quem desdenha quer comprar e todos nós já sabemos que a menina quer ir à pastelaria da terra com uma criança irrequita pela mão a comer uma bolacha com a roupa toda.
- Pensei que o desejo de aprovação fosse o motivo de ver os seus professores, mas o cerne da questão é que não só não conseguiu responder, como se esqueceu do que falava o livro. Esquece quem come queijo. Anda em falta com o queijo. Como isto se passa num auditório: evite o requeijão (óbvio).
- Quando julga ter capacidades adivinhatórias está apenas a ser confundida pelas suas hormonas. Tal como 90% das mulheres que elegeram Sócrates no ano de 2005, deixou levar-se pela líbido e sonha com o cinquentão grisalho mas tão em forma, como sendo o seu herói de cavalo branco (“fui salva pelo gongo” > “era nada mais nada menos que josé sócrates”).
Tudo claro como a água. Um bem-haja e...bons sonhos!
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As Caçadoras de Sonhos Maria das Palavras e M.J. estão à vossa disposição, para de uma forma absolutamente desprovida de juízo, mas repleta de conselhos originais, desmontar os vossos sonhos e ajudar a interpretá-los. Interessados na análise freudiana de duas miúdas que não devem ser levadas a sério? Enviem os vossos sonhos para cacadorasdesonhos@sapo.pt.
Prometemos ser sobejamente mais meiguinhas nas análises alheias do que fomos nas nossas (vejam lá no blog da M.J. o sonho que ela me interpretou) - é que nós sabemos insultar-nos em graça e sem desgraça, porque sabemos que somos parecidas. Tudo depende, claro, do vosso sonho...experimentem.