Carta para ela
Sempre que erras comigo - e erramos tantas vezes, a sorte é a capacidade que temos de nos acertarmos - há um momento em que desabafas: não sei porque gostas de mim.
Coisa do momento, claro. Tu sabes tudo o que és (em ti e para mim) e eu já to disse muitas vezes.
Mas eis uma razão muito boa para gostar de ti: porque quando tomamos duche juntos tu acabas sempre primeiro (odeias ficar sem a água quente em cima do corpo por um segundo que seja, por isso eu espero por ti, só te observo) e quando sais levas sempre os meus chinelos para fora da casa de banho. Tantas vezes andas descalça por mais frio que o chão esteja, mas depois do duche, roubas-me sempre os chinelos. E eu chateio-me invariavelmente contigo, mas só te acho adorável. Depois tu voltas atrás com um sorriso maroto, às vezes já vestida, e devolves-me os chinelos.
É isto.
Podia repetir como és bonita, inteligente, que adoro o teu sentido de humor e os teus olhos de mar, ou a tua insegurança bem disfarçada para o mundo. Mas não é este um elogio mais puro? Um que só eu te posso fazer de algo que só me fazes a mim. Um elogio nosso de uma particularidade tua que só eu conheço. Amo-te porque me roubas os chinelos.
E foi isto que te quis oferecer neste aniversário. Porque já te dei tantas coisas, mas nunca te ofereci palavras.
Com amor,
F.