De corpinho bem feito
Hoje ouvi a voz da minha mãe, a 124km de distância e sem usar o telemóvel. Decidi que não queria usar casaco. Como acontece a todas as mulheres de roupeiro cheio: não tinha o que vestir. Nenhum dos meus casacos se afigurava capaz de me compor com elegância e eficiência o conjunto já escolhido. Portanto pedi à minha camisola de lã que se fizesse de tão grossa quanto possível. Às vezes, quando temos de fingir felicidade, ficamos um pouco mais contentes. Disse isso à camisola e ela fez-se quente.
Entrei nos dez graus da manhã com confianças de verão. Às vezes, quando temos de fingir que não temos frio, não temos mesmo. É por isso que as mulheres podem usar saias no Inverno - a meia de vidro não protege, o ego é que sim. Olhei-me na vitrine enquanto passava e ouvi distintamente a voz da minha mãe: lá vai ela, em corpinho bem feito.