Descruza as pernas, Maria!
Tenho a mania de estar sempre assim: de pernas cruzadas. Se me sento ponho automaticamente uma perna sobre a outra (sem a elegância ou grau de sedução de uma Sharon Stone) e é assim que me sinto bem. Próprio de uma donzela, dirão alguns. Próprio de alguém que quer ganhar varizes cedo, adivinham outros.
Não são poucas as vezes que fico com as pernas dormentes, pela má circulação de sangue que este meu gesto automático provoca. Normalmente espero que passe, rodo um bocadinho o pé da perna meio-que-morta e num bocadinho esqueço-me: levanto-me e volto a sentar-me na mesma posição.
Mas se acham que isto é mau só para a saúde, oiçam (que é como quem diz: leiam) este relato que já tem uns anitos:
Maria segue formosa e bem segura. Vai ter com a paixoneta da altura, mas já está um bocado farta de andar a reboque dele: para ele era aquilo e mais nada, para ela (e a partir de certo ponto) antes nada que aquilo. Portanto vai decidida a acabar com a brincadeira. Vão juntos até uma esplanada da moda, bem catita. Aí se dá a conversa. Ela explica que é a última vez que se encontram assim com aquele status de pseudo-coisos e que é mais ou menos um adeus - também não eram bons amigos antes e a probabilidade é que não ficassem bons amigos depois. A conversa desenrosca-se, ele não faz promessas que ela também já não quer ouvir. Fica tudo bem, mas é claro que já ninguém está ali a fazer nada, nem com vontade de permanecer e decidem dar a noite por terminada. Ele diz "eu pago". Ela replica "não, eu pago". E de um ímpeto se levanta...e quase cai. Tinha estado de pernas cruzadas e tinha uma das pernas tão dormente, tão morta, que por pouco não encontrou o chão com o nariz. Teve de se sentar outra vez num instante e assitir impávida a levar a cabo a sua intenção. Não chegou a ferir os joelhos, mas feriu o orgulho. Ele mal reparou, que também se estava a levantar para ser ele a pagar como tinha dito. E ela que tinha dito "não, eu é que pago" com a assertividade a que já o tinha acostumaso...estava ali presa à cadeira, sem se poder levantar. E serviu de lição? Não, claro que não.
Adivinhem lá como tenho as pernas agora?
Descruza as pernas, Maria!