Diário de um Caracol - Parte 11
14 de Maio de 2017
Querido Diário,
Sei que já não escrevo há muito tempo, mas assim que acabou o mundial de futebol começámos a fazer a peregrinação para Fátima e não houve tempo a perder. A partir do Cartaxo ainda é um bela distância. Quase não chegámos a tempo e perdemos dois familiares pelo caminho. Primeiro a tia Teresa, vítima de desidratação. Ela estava sempre a beber de uma garrafa do Luso e achávamos que estava a tomar bem conta de sim, mas afinal era Gin (como é que ninguém estranhou a azeitona na garrafa?). E, já na na reta final, um primo foi esmagado pelo joelho de uma devota sobre-nutrida ali na zona de Alcanena. Tinham avisado o pessoal para ter cuidado com as beatas, mas ele no último fôlego confessou que achava mesmo que estavam a falar das pontas de cigarros.
No entanto, não só por estas desgraças, mais valia não termos lá ido. O caracol Antunes, que é um amigo do pai e foi conosco, desapareceu quando já estávamos à entrada do recinto. Não é que quando chega o Papa é que o vemos, bem em cima do terço gigante, todo NU (sem a casca a tapar a santa trindade) a gritar pelo Benfica?
Foi uma vergonha. A mãezinha sentiu-se mal e perdeu o final da missa. Já o Felismino gravou e queria pôr no Youtube porque diz que dá dinheiro se fizermos alguma coisa original e o segmento dos caracóis ainda não foi bem explorado.
Eu estou só muito cansado de andar com a casa às costas de um lado para o outro. Para o mês que vem já faço 3 anos e o pai diz que posso tirar a carta de me colar a uma mota. Sinto que vai ser libertador, apesar de a mãe dizer que é perigoso. Acho que é porque uma vez um caracol lá da terra tirou carta de se colar ao carro, mas depois, sem se aperceber, colou-se a um daqueles carrinhos da feira. Ainda hoje lá anda às voltas e não consegue sair.
Uma ranhoca,
Martim
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