Diário de um Caracol - Parte 7
21 de Outubro de 2015
Querido Diário,
Aproveitámos para sair do esconderijo hoje. Os humanos estavam distraídos com um tal de Netflix que ia chegar dos Estados Unidos hoje. O Felismino, que é sabido, diz que os humanos são muito de se entusiasmarem com coisas assim: vão ter a possibilidade de pagar por coisas que têm de borla e ficam aos saltos. Ele diz que é para não serem Inácios.
Entretanto o negócio da baba de caracol está a correr de vento em popa. Literalmente. Com o mau tempo, veio uma rajada e demos cabo do stock todo. Não sei se tenho coragem para começar a recolha toda de novo.
Uma ranhoca,
Martim
23 de Outubro de 2015
Querido Diário,
Por esta altura as coisas já deviam ter acalmado. Em Outubro ninguém nos anda a apanhar para nos cozer vivos e só temos de ter os cuidados básicos com os humanos: sair da frente deles para não sermos pisados.
Tem-se revelado uma tarefa especialmente penosa porque os humanos iam para a direita, começamos a ir na direção contrária e eles voltaram à esquerda. Fomos nós para a direita, eles voltaram a virar-se para lá. Uma confusão. Eles não se decidem e nós não sabemos para que lado fugir. O pai diz que o importante e escondermo-nos e não dar cavaco às opiniões dos outros. Não sei bem o que quer dizer com isso.
A nossa meta é chegar à margem sul porque dizem que por lá não há ninguém. Chamam-lhe deserto, mas o Felismino promete que tem plantas e não há camelos para nos pisarem. Se continuarmos a bom ritmo e os humanos pararem de mudar de direção em 2054 estamos lá.
Uma ranhoca,
Martim
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