Diário de um Caracol - Parte 9
24 de Maio de 2016
Querido Diário,
É verdade que tenho andado sem escrever, mas também posso dizer que entre o nosso recolhimento durante a época dos caracóis de 2015, as viagens à procura de um local seguro para passar o Inverno e a minha mais recente mudança de escola (andava num privado e a mãezinha diz que agora já não posso) as coisas têm sido caóticas para os meus lados.
Começámos uma marcha lenta para Cannes porque o Felismino tinha visto um sítio seguro lá para nós na imprensa, uma espécia de zona montanhosa abrigada, mas parece que afinal era só o rabo da Rita Pereira que até ia voltar para Portugal em breve. E afinal também não era assim uma zona muito abrigada. Só nisto perdemos uma semana e nem chegámos a passar de Xabregas.
Depois passámos vários dias escondidos num prédio em construção porque havia um monstro à solta. Descreviam-no como o diabo de vermelho que nunca sorria. Mas a mãe que até apanha de vez em quando a TV ligada na Sic quando vai comer sardinheiras à janela da dona Ludmila percebeu que era só a Inês Castel Branco que tinha estado mal disposta.
Calhou na mesma noite que quase nos enganámos e fomos pisoteados no Marquês porque uma caracoleta vizinha nos disse que tinha avistado um belíssimo campo de papoilas, mas afinal eram os adeptos do Benfica a festejar um tal de título.
A melhor novidade é que agora andamos em filmagens. Estamos a fazer a nossa candidatura para um programa de TV e o Felismino já escreveu uma carta e tudo. Vem aí a época de comer caracóis e temos de começar a pensar em estratégias de defesa. Então queremos ir ao "E se fosse consigo?". O pai acha que temos muito boas hipóteses porque acho que já passaram por lá outros animais.
Uma ranhoca,
Martim
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