E nada o vento levou
Ficou ali parada muito tempo. As árvores mexiam-se. O galo de ferro no topo da casa rodava. Corria lixo pelo chão. E ela que não saía do mesmo sítio.
As pessoas passavam olhando, intrigadas, para a moça que dali não saía há horas. Já se comentava no café da esquina.
Ela parecia lúcida, replicaram, quando alguém sugeriu que talvez precisasse de ajuda. Ninguém lhe perguntava o que se passava.
Até cumprimentava quem lhe desse as boas tardes, quase em sussurro. Só não saía dali. E estava prometida uma tempestade para mais logo.
A dois passos da porta de casa. A chave da porta pousada no degrau. O gato nem vadiou nesse dia, ficou sempre à janela, como se trocasse a vez com ela, que não entrava.
Braços caídos, olhos quase cerrados, cansados de mirar o horizonte. O cabelo já em desalinho. A saia a dançar ao sabor do vento, mas ela não.
O mistério era simples.
Esperava uma rajada de vento que a levasse para qualquer direção. Porque ela não sabia para onde ir.