Lá para a frente.
Acho que sempre imaginei que lá para a frente seria casada e teria um casal de filhos. O dia em que esse dia deixaria de estar lá para à frente e estaria algures entre o hoje e o para a semana haveria de chegar quando eu fosse crescida. Aí haveria de ter o vestido de noiva pensado, se era corte império ou teria decote princesa, e os nomes das crianças escolhidos, qualquer coisa pouco vulgar, mas pouco estranha, que não os fizesse sentar muito à frente da sala de aula, nem muito atrás.
Esse dia nunca deixou de estar lá para a frente e oiço dizer que com trinta anos já se é crescida. Continuo a não querer reunir os amigos e a família para testemunhar um amor que me parece, muito legitimamente, ser apenas de duas pessoas. Continuo a não saber os nomes para o batismo daquele par de crianças que continua a fazer parte dos planos daquela altura em que eu já for grande e ainda não é hoje.
É uma chatice isto de se crescer sem darmos por isso, nem o pedirmos, sequer o assumirmos.
Ainda não aprendi nestes anos todos a lidar com as minhas próprias lágrimas, querendo ser sempre a cebola e nunca a dona dos olhos. Lá para a frente, quando aprender isso, talvez consiga pensar no resto.