Maria nos Karts
Quando me convidaram para ir ao kartódromo por ocasião do aniversário daquele amigo, não pensei duas vezes: claro que sim! Nunca tinha andado de karts e sou menina dada a experimentar sensações novas. No entanto, à medida que a data e hora se foram aproximando, muito especialmente naquela meia hora anterior à corrida a olhar para outras pessoas na pista, o meu medo foi crescendo.
Medo de morrer? Ter um acidente? Magoar-me? - perguntam vocês.
Medo de fazer figura de parva - respondo eu.
É que, pensado bem, a morte é inevitável, mas fazer figura de tola não. Pelo menos posso baixar o grau de probabilidade de o fazer. Em todo o caso já tinha dito que ia e considero que desistir também é fazer má figura, pelo que avancei. Convencida de que ao menos era uma experiência nova e que na pior das hipóteses faria o caminho todo a meio kilómetro à hora - paciência! -, já me tinha certificado que ninguém esperava mais de mim. Baixar as expetativas é chave em tudo na vida, digo-vos eu.
O primeiro percalço foi, aliás, logo em casa quando o Moço sugeriu que calçasse ténis para ir ao kartódromo. O quê?! Vou ter de sair da minha zona de conforto e também do meu calçado de conforto? Nem pensar. Concordámos numas botas velhas, rasas, de atacador e juro-vos que logo ali me subiu um pouco a confiança (tinha experimentado antes as sapatilhas e já me estava a sentir uma criança de sete anos - já sei que sou uma esquisita).
Mas vamos ao kartódromo. O grupo de amigos nossos que correu antes teve de tudo: despistes, piões, amigas minhas que odiaram a experiência e foram sempre devagar a rezar que acabassem os 15 minutos. E eu pensei: pronto, está tudo visto, pior não hei-de fazer e se fizer igual não me envergonho. Lá segui o senhor que nos deu toucas de papel para esconder o cabelo antes de enfiarmos o capacete e gracejei "que bom! dá para andar de karts e fritar rissóis". Ninguém achou graça. Fi-lo prometer que alguém me acudiria se ficasse parada na relva (mal sabia eu). E vamos a isso, que se um par de canalizadores consegue, eu também (falo de Mário e Luigi, na Nintendo).
Assim que entrei no kart, e vi como aquela porra é tão chegada ao chão, comecei a fazer um check mental em "coisas que experimentei uma vez não-sei-como, mas se calhar já não repito". O senhor vai pondo os karts à minha frente a funcionar e eles vão arracando, com banda sonora de corta-relvas. Quando chega à vez do meu...o kart não pega. Pois é, arranquei devagarinho praí à quinta tentativa, o medo do kart se incendiar juntou-se ao medo de fazer figura de tola. O sacana do carrinho corta-relva falhou-me mais duas vezes! Ao longo do percurso, ainda na primeira volta, lá falhava e eu esperava pelo senhor que vinha a andar na pista e me ajustava qualquer coisa, voltava a dar à corda e eu arrancava novamente. Bonito! Assim é que os 15 minutos iam passar depressa - comigo encostada à box.
Mas depois deixou de falhar. E eu fui ganhando confiança. Deixando de travar. Fazendo as curvas mais a abrir. Acelerando a fundo nas retas. E quando o tempo acabou, estava preparadíssima para recomeçar, agora a todo o gás, e fazer melhor que da primeira vez.
Conclusão: recomendo vivamente. Como disse uma amiga que experimentou antes de mim: o segredo é perder o medo. E como podem ver nas fotos acima, tenho um estilo que arruma a um canto o próprio Fittipaldi.
Está decidido que repetirei a experiência. Resta-me só decidir agora que castigo aplicarei ao Moço por me ter ultrapassado quase no final da corrida...