Momento Eterno
"... e de repente, como aos momentos algumas vezes acontece, tornou-se eterno."
Saramago
Não podíamos estar longe. Não podíamos esperar para nos conhecermos melhor. Por isso é que jantámos na quarta, fomos beber café na sexta (eu nem bebo café) e na segunda-feira ele foi almoçar comigo. Sugeri, sem protestos, que fossemos ali a um indiano no Rato, muito gostoso e até em conta. Só soube mais tarde que ele nunca tinha provado daquele tipo de comida e nem era muito dado a novas experiências culinárias. Foi por mim. O carro ficou estacionado numa rua paralela. O sacana tem um anjinho para os estacionamentos, estou certa disso. E íamos a andar pela calçada, ocupados a fingir que não estávamos nervosos. Que não nos interessava o que queria dizer isto da vontade de nos vermos outra vez e mais uma. Pelo menos eu ia. É aí que ele me pega na mão. E encontramos o passo. Ele gostou da comida indiana. Eu, num gesto institivo, animal, que não confesso, passei a tarde a inspirar junto da minha mão, a que ele tinha pegado.