O Caderninho
Tenho um caderninho, entre dezenas de outros e como já tive dezenas de outros, onde escrevo ideias que tenho para escrever. Não para escrever singelos textos para o blog, são ideias mâgnanimas, inigualáveis, para livros inteiros. Tem dias, tem coisas, tem frases, que me acendem luzes na cabeça. De repente preciso anotar aquela fórmula mágica antes que se vá. Entusiasmo-me. Escrevo além da frase-chave, muitas notas, numa letra quase linha que só eu perceberei para sempre. Os nomes, as peripécias, as características importantes, os twists, como será o grand final, alguns episódios de atirar ao chão em riso ou em ternura ou em tragédia. Durante uns dias ou umas horas, acrescento mais coisas. Ainda não puxei o cordelinho para apagar a luz. Continuo. Não me posso esquecer disto e daquilo. Ah, que rasgo! Então começa a esmorecer a pressa de ter tudo decidido. O essencial está pensado, posso descansar, afasto-me. Fica a fermentar. Só que vou lá passado uns dias ou umas semanas, abro o caderninho com mais uma ficção que nunca escrevi, só planeei. Leio. Não percebo que graça achei eu àquilo no outro dia. Por que raio terei sequer apontado? E aquela parte que não faz sentido nenhum? Arrumo-o novamente, entre as outras coisas que andam comigo na mala, o pacote das pastilhas, as chaves, o saco de pano para as compras, e espero pela próxima ideia que viverá na minha cabeça e morrerá no caderinho. Enfim, vou sendo feliz.