O céu é hoje e aqui.
Somos bons para ir para o céu - mesmo quem não tem religião ou tem outra que não a católica tem esta ideia da recompensa divina bem presente. Fala-se nisso, mesmo que a brincar, os filmes retratam a situação e até os desenhos animados pegam na ideia (alguém aqui viu o Todos os Cães Merecem o Céu em pequeno?). Distingues o bem e o mal, praticas o bem quando podes, pedes perdão pelo mal quando falhas e um dia, se tudo correr bem, vais para esse sítio mágico vestir branco e comer queijo Philadelphia.
Um dia destes vi um filme com uma afirmação curiosa. Sobretudo porque era proferida por um padre e não estou a ver um padre a dizer isto, sem ser parte de uma fita de ficção. Não me lembro do nome do filme por mais que me esforce, só sei que era a história de um velho deixado pela mulher e uma jovem viciada em sexo que é abusada e vítima de violência. A dado momento encontram-se na história e o velho (seria o Morgan Freeman?) estende-lhe a mão. Ou melhor, acorrenta-a lá em casa para ela não fugir enquanto tenta que recupere. O amigo dele, padre de profissão, passa lá em casa e ele pede-lhe que converse com a miúda. É aqui.
O padre diz-lhe que ela não deve fazer o bem pela ideia longíqua de um dia ter um buffet à sua disposição no céu. Que deve fazer o bem para obter o céu agora. E pergunta-lhe: quem é o teu céu?
E agora pergunto eu: para que nos esforçamos e levamos a vida o melhor que pudemos e sabemos, não sendo para que um dia os portões do paraíso se escancarem para nós? Qual é o vosso céu? Quem é o vosso céu?