O estranho caso do taxista devoto do budismo
Ontem apanhámos um táxi do aeroporto para casa, já tarde e a más horas. Sem outra bagagem que não as nossas pequenas mochilas dirigimo-nos logo para o banco de trás.
Eu entro no táxi e digo boa noite. O taxista nada.
O Moço entra no táxi a seguir a mim e diz boa noite. O taxista nada.
Os segundos passam-se e o taxista nada, o carro parado à frente do aeroporto. Olhamos um para o outro, encolhendo ombros, tirando a conclusão óbvia (ninguém é TÃO mal-educado, o taxista só pode ser mudo) e o Moço anuncia o destino.
A viagem passa-se no silêncio mais absoluto.
Quando chegamos à nossa rua o taxista também não pede novas indicações e aguarda calmamente pela nossa instrução de parar. Encosta. O Moço perde um bocado a encontrar a carteira e quando finalmente a encontra pergunta (apesar de estar bem visível no taxímetro): quanto lhe devemos, então?
E aí aconteceu: um quase inaudível "oito euros". Pagámos, saímos ouvindo desta vez um "boa noite" baixinho, que respeita a calada da noite, em resposta ao nosso cumprimento final.
Foi aí que finalmente percebemos. O taxista já não podia ser mudo - afinal falou. Era budista e tinha feito um voto de silêncio que o obrigámos a quebrar. Sentimo-nos pessimamente, mas de alguma forma, conseguimos acalmar-nos e dormir bem nessa noite.
[Tem de ser não é? Tem de ser budista, certo? Afinal os taxistas já passam por tanto, com os riscos que correm à noite e com sabe-se lá que tipo de passageiros, com a concorrência da Uber que não paga todas as taxas que eles têm de desembolsar...não iam ser hostis para dois passageiros com ar simpático que vêm do aeroporto só porque são portugueses e nem trazem bagagem para pôr na mala e se cobrar mais uma taxa adicional por isso. Certo?]