O novo (a)normal
É como um jogo. Tudo o que vem da rua tem lepra e não se pode tocar - até o Moço quando regressa do trabalho.
Depois passam para a zona radioactiva da casa (o Moço passa só para o chuveiro) e é ver esta menina a esfregar embalagens com lixívia, a esfregar tangerinas com sabão, com o cuidado e delicadeza com que se banha um recém nascido. O Moço esfrega-se sozinho. A contragosto.
Nunca o meu umbigo, em 34 anos de vida, ficou tão bem lavado como o plástico que envolve um queijo fresco antes de ir morar para a prateleira do nosso frigorífico.
Tenho um nojinho latente de tudo e de todos.
A vida até pode passar a ser levada com este novo normal, aos poucos e com cuidado. Até podemos um dia voltar a um normal muito semelhante ao que já conhecíamos.
Mas só descanso no dia em que voltar a deixar cair uma amêndoa no chão e aplicar a regra dos 5 segundos para a levar à boca.