O Processo
Começando o texto de pernas para o ar, dou-vos um exemplo: quando me mudei para Espinho quis ter a casa completa. Logo. Comprar aos poucos, decorar aos poucos, arrumar aos poucos, causava-me ansiedade. Fazer qualquer coisa aos poucos causa-me ansiedade. Assim, mobilizei quem pude e esfalfei-me de manhã à noite, em todos os segundos possíveis, fizemos o esforço económico todo de uma vez (felizmente muita coisa já vinha da casa anterior) e tínhamos tudo pronto em tempo para medalha olímpica. Não há cá: "só falta pendurar os quadros" ao fim de meses.
Quando penso em algo, ou algo deve ser levado a cabo: faço e acabo. Não tem de ficar perfeito, tem de ficar feito, para eu colocar um CHECK e apagar a luz dessa preocupação. Caso contrário, vou parando de viver o presente para ir fazendo listas na cabeça das coisas com que me deveria estar a ralar por não estarem feitas - ou decididas. Também escrevo para me acalmar: Se estiver escrito, não tenho de me lembrar. Às vezes esqueço-me que escrevi na mesma, mas pelo menos naquele momento inicial, sosseguei por causa disso.
Estou a tentar mudar. Entender que há coisas que são um processo e que se me permitir fazê-las ao longo do tempo, talvez fiquem melhores, talvez me dêem mais prazer, talvez surja espaço para mais criatividade. Habituar-me à ideia de ver as tarefas como processos é o maior de todos os processos. Agarro-me à muleta da escrita outra vez e escrevo quais são as metas, para garantir que não me esqueço delas sem as repicar a cada minuto. Mas não lhes ponho uma data de fim, só de início.
Já consegui relaxar com o facto de não saber como organizar tudo o que eu e o Moço temos de encaixar nos fins-se-semana dos próximos dois meses. Já consegui acalmar a ânsia de não poder prever já as próximas férias (leia-se: viagem). Já consegui aceitar que vou demorar semanas a concluir a reorganização cá de casa que me propus a fazer. Já sei que as mudanças que desejo ver em mim não acontecem de um dia para o outro. Com calma. Estou a processar.