O sacana do belho...
Vocês desculpem-me o palavreado (e o sotaque emprestado) mas não estou capaz de por a coisa de outra maneira. Vocês lembram-se do dia em que me podiam ter cortado a goela porque abri a porta sem perguntar quem era? Pois bem, desta vez perguntei e não valeu de muito.
Eu explico. Cheguei a casa ao fim da tarde. Por agora estou sozinha em casa, o Moço ainda não se mudou, mas não me faz muita confusão que sei que ele há-de vir, vemo-nos com bastante regularidade e no geral sempre fui uma pessoa que gosta de estar sozinha (embora já não o prefira).
Enquanto fechava a porta de casa atrás de mim senti que algum vizinho abria a sua, não percebi bem qual. Ainda estou a pousar as coisas quando me começam a tocar à campainha. Perguntei quem era. Resposta? Mais tocar de campainha. E a pessoa desata também a bater à porta (com força). E a repetir com maus modos "abra a porta". Repeti a pergunta e a voz do homem (que pelo cabelo branco que o olho da porta me mostrou seria de idade avançada) repetiu a não-resposta. Tocar, bater, pedir - ordenar - que eu abrisse a porta sem dizer quem era. Ainda insistiu um bocado. Claro que não abri a porta a um homem arraçado de bruto que não me dizia quem era.
Ocorreu-me ligar à agente imobiliária que tem tratado connosco das coisas (na vez da senhoria) e que mora por perto. Sem lhe contar que tinha ouvido a porta de alguém a abrir, adivinhou logo que talvez fosse o vizinho. Liguei ao Moço que me disse a mesma coisa: devia ser o vizinho que não me conhecia e viu alguém a entrar na casa da frente sem saber quem era - só cá estou há uns dias.
Pois que fosse! Isso não melhora nada. Pode ser o vizinho e ser louco. Pode ser o vizinho e ter um cajado. Pode ser o vizinho e cortar-me a goela (outra vez este filme). Já me tinha dito a senhora da agência que os vizinhos da frente não eram para dar confiança que se metem muito na vida das pessoas (se bem que acho que aqui toda a gente se mete na vida de toda a gente, mais que na minha terrinha de origem que é bem mais pequena). E já me tinha dito o Moço que o vizinho da frente era mal-educado, que no dia das mudanças entrou pela casa adentro sem pedir permissão a ninguém e se pôs a ver...
Enfim, ninguém me pareceu preocupado. A da agência não correu para cá, como eu queria. O Moço desvalorizou que "eu podia bem com o vizinho" e qualquer coisa chamava a polícia. É que nem a Patrulha Pata ia acorrer ao pedido " venham que me está um senhor idoso a bater à porta". Ainda gozavam comigo. E eu feita estátua, às escuras em casa, para não chamar a atenção do vizinho.
Portanto já sabem: quando ouvirem falar na CMTV da jovem encontrada sem vida no seu apartamento ainda com caixas por arrumar, sou eu. Provavelmente não porque o sacana do velho me fez mal. Mas porque nunca mais saio de casa, que tenho de passar à porta dele para descer as escadas...estou oficialmente barricada e vou falecer de inanição. Mandem água e mantimentos. E qualquer coisa para eu recortar, porque a tesoura não sai do meu lado.