Querida, embebedei o cão.
O meu pai foi à mata apanhar medronhos. Não sei se é um conceito estranho para pessoal das cidades grandes, mas o pessoal das terras vai à mata buscar coisas. Levou o cãozito da família, um salsicha meets vira-lata que já não é cachorro mas tem energia de peta-zeta embutida em cada pelo e adora andar a passear e saltitar (e fazer asneiras em geral).
A dado momento o meu pai, que andava entretido na sua tarefa, reparou que o cão já não andava a correr que nem um parolo de árvore em arbusto. Estava muito sossegado a roer um medronho que estaria caído no chão. Ora, o medronho é uma fruta. Mas é uma fruta com teor alcoólico. Pelo que quando o meu pai o chamou e ele o olhou de volta com os olhos muito pequeninos, como se o tentasse focar, o meu pai percebeu que o cão tinha comido muito mais que um medronho.
Daí para a frente foi o festival típico de um fim de noite no Cais do Sodré. Uivava, como nunca se tinha ouvido, como um bêbado a cantar o fado. Andava torcido, como o Vasco Santana menos o candeeiro. O meu pai levou-o ao carro, onde ele aproveitou para dar um forro novo aos estofos (se é que me entendem). E quando chegaram a casa, o meu pai jura que só visto, nunca contado: foi tal e qual como um beberolas a chegar tarde a casa. Cambaleou da porta diretamente à sua cama e tombou para ressacar.
Não se preocupem, o cãozito está bem. Foi um acidente sem mais consequências que a lavagem do carro. Ah, e agora o meu pai mantém a garrafeira fechada à chave.
Se conduzir, não beba.
Se apanhar medronhos, não leve o seu cão.