Quero uma cama de solteira
Já te disse mil vezes. Tenho saudades da cama de solteira em que nos aninhávamos na minha casa velha.
Aquela que era horrível porque estávamos sempre com calor e nos tínhamos de encavalitar e encontrar e encolher. Aquela em que não nos podíamos virar sem destapar o outro ou - no teu caso - tirar o lençol de baixo todo do sítio. Onde tu estoicamente passavas todas as tuas nossas noites, no colchão liliputiano, mesmo com a cama de casal à tua espera na casa dos teus pais.
É que esta é muito grande. Cada centímetro que fica entre nós tem, para mim, a distância de uma milha. Se não dormes comigo então, o que acontece mais vezes do que gostaríamos, fico sem saber onde me encostar. Fico do meu lado, sossegada, como que à espera que alguém me dê permissão para sair do meu lugar.
Já não consigo pôr-me ao meio da cama. Não sei quando é que isto aconteceu. Eu, a miss não-me-toques-nos-pés-prefiro-dormir-sozinha-quero-isto-tudo-para-mim-só-para-mim-e-o-ideal-era-mesmo-quartos-separados-para-dormir-em-paz-e-ser-chique.
O lugar de lá é teu. O lugar ao meio é nosso. E o meu lugar, deixou de ser divertido ou aconchegante - é só frio e solitário.
E então? Podemos trocar a nossa cama?