Sim. Posso passar semanas sem ouvir música.
É libertador confessá-lo, porque sinto que é uma coisa muito mal vista na sociedade. Mas ao ver um mundo cada vez mais ciente da igualdade de direitos quanto ao género, a raça, a preferência sexual e outras que tais (clubística ainda não) sinto que devo poder dizê-lo sem ser vista como leprosa auditiva.
Não me entendam mal, sou grande apreciadora de jazz & blues e sinto que há momentos na vida onde quase todos os géneros musicais são adequados. E sim, há músicas que me tocam (especialmente de gente morta) e me despertam recordações e me causam um "ah". Mas no dia-a-dia não sinto falta dela, como muita gente. Não a uso de fundo para trabalhar, nem de companhia quando estou sozinha. Nas viagens prefiro um livro e não preciso de auriculares nos ouvidos para esquecer o resto do mundo (isso e tenho pavor de falarem para mim ou acontecer qualquer coisa e eu estar sem a audição ativa). Não conheço o que anda a ser ouvido e nunca ouço rádio. Aliás, o carro é mesmo o único sítio onde gosto de ouvir música (porque não posso mesmo fazer mais nada), mas quero ouvir a mesma de sempre e cantá-la se o ouvido alheio não for muito sensível. Não sei nada do que está na berra, nem de bandas, nem de nada. Se fosse ao Quem quer ser milionários perdia a dizer que DAMA era um tipo de alfinete (sim, sim, sei que é "de ama"). E sempre que o Moço me pergunta "sabes que banda é esta?" respondo Beatles. É raro mas acerto, como os relógios parados que ainda assim estão certos duas vezes por dia.
Gosto de música mas não me alimento dela. Espero que possam continuar a tolerar-me depois de saberem desta terrível verdade. Deixo para outro dia a revelação: não tenho aquela cena de querer ver o mar.