Não dobrei os cantinhos todos do livro porque o livro não era meu. Pensando melhor, não dobrei os cantinhos todos do livro porque se os dobrasse todos, seria igual a não ter dobrado nenhum. A estória não é extraordinária, mas o conceito, senhores! Um conceito levado ao extremo. A importância do inútil num mundo pragmático. A importância da arte num mundo de números. A importância de saber usar uma metáfora sem lhe chamar mentira. Ou chorar sem medir os mililitros de lágrimas. Quis guardar todas as frases, todas as ideias neste livro que se lê de uma vez só. Guardei só a vontade de ler (ainda mais) Afonso Cruz.
Mas se, por exemplo, algum de vocês (ou o Moço) quiser escolher alguma coisa para alguém (ou para mim) e achar (como eu) que estas coisas isoladas (mas sobretudo em conjunto) podem fazer a alegria de muita gente (ou minha) este Natal (ou mesmo amanhã) sirvam-se à vontade das sugestões que deixo. Se vocês (ou o Moço) quiserem saber mais detalhes sobre cada uma destas peças que há quem chame (eu) de belezuras, vocês (ou o Moço) só têm de clicar na imagem dessa belezura da vossa (minha) preferência. Há pelo menos duas que nem 8€ custam, mas vocês (ou o Moço) é que sabem da vossa vida...
As boas? Finalmente o livro do Afonso Cruz apareceu. Estava de facto em casa dos meus pais, depois de a minha irmã o ter levado emprestado há meses.
As más? Foi encontrado assim.
[Ou pelo menos foi esta a foto que recebi da minha irmã, juntamente com a mensagem "O livro do Afonso Cruz não queria ser encontrado. Lamento mas cheguei a casa e encontrei-o assim...Devias ter deixado o assunto em paz. Ele não queria voltar para Lisboa..."]
- (...) agora o teu mundo parece estar todo ao contrário, mas verás que é apenas uma maneira de ver as coisas. Vou contar-te uma anedota, escuta: um dia o mulá Nasrudin montou no seu burro para ir trabalhar. Então, começou a gritar, cheio de espanto, dizendo que o burro não tinha cabeça.O vizinho, aos ouvir os berros, percebeu de imediato o que se passava. Nasrudin tinha montado o burro ao contrário, e então disse-lhe: A cabeça do burro não desapareceu. Olhe para trás. O mulá Nasrudin olhou para trás e recomeçou a gritar, dizendo assim: Pior do que ter um burro sem cabeça é ter um burro com a cabeça a nascer no rabo.
Fazal Elahi riu-se muito, mas Isa continuava calado.
- Vês? O mundo parece que nasce do rabo, mas está tudo no lugar certo.Pelo menos, às vezes é assim, acho eu. Só tens de montar nesta vida na posição correcta, Alá sabe melhor, apesar de às vezes se dar aquele problema do equilíbrio absurdamente/moralmente/esteticamente desequilibrado, mas não ligues a isso Isa, tudo correrá pelo melhor, vais ver.
Se me perguntarem o que é que prefiro que sobreviva, o meu corpo ou estas histórias, eu não hesito. Se estiver numa prisão e tiver uma escolha dessas, não penso duas vezes. Tenho de salvar as histórias, salvar as ideias. Se eu as passar a outra pessoa, se ele as amar como eu, passa a ser eu, pois as coisas que amamos confundem-se com as coisas amadas, e só os manerismos são diferentes. As histórias sou eu (...). Sacrificaria o corpo e tudo o resto. O que é tudo o resto? Esta mania que eu tenho de comer pouco? Este feitio tolerante? Isso não vale nada, absolutamente nada. Deito tudo fora para salvar as ideias, e cada vez que as passo a alguém (...) reencarno.
Afonso Cruz in Para onde vão os guarda-chuvas
[Vão ter de aturar pelo menos mais uma citação deste fabuloso livro, deste fabuloso autor. Há livros com bons argumentos. Há livros com sentido de humor. Há livros com boas personagens. Há livros bem escritos. Há livros com metáforas maravilhosas. Há livros com lições. E há este livro, que é isso tudo num só.]
Estou a dizer, só aleatoriamente e de forma totalmente desprendida da época natalícia que se aproxima (e onde é costume trocarem-se prendas), que estou a ler e a adorar este livro do Afonso Cruz (leiam a sinopse clicando na capa) e que é autor para me dar vontade de devorar tudo o que já escreveu. Escreveu e ilustrou - que o livro é uma combinação magistral das duas coisas (letra e imagem, às vezes letra a formar imagens). Agora quem ler este post que faça o que quiser com esta informação. A minha intenção era mesmo só partilhar isto...
Por exemplo, não ia pôr-me a pedir os outros livros dele, nomeadamente os que deixo aqui abaixo. Seria ridículo, até porque já tenho o primeiro, apesar de o ter perdido sem o ler. E depois, no geral, porque não gosto de estar a pedir coisas. Já para não dizer que só ainda faltam umas oito semanas para o Natal...Seria ri-dí-cu-lo. Nem me ia pôr a falar disto como dica à socapa só porque hoje a partir das 20h e até Sàbado a FNAC estará com descontos de 30% para aderentes...e ficaria mais em conta comprar já livros que eu não teria intenção nenhuma de trocar. Mas digo isto de forma desinteressada, como vos diria que tenho uma nódoa na blusa, sem esperar que me ofereçam outra (contudo, lá está, deixo ao critério de quem ler).
É baixo e magrinho de tez amarelada. Veio morar conosco há menos de um ano. Foi de mãos dadas com a minha irmã e nunca mais regressou, embora ela jure que o deixou sossegado num banquinho com ordens para não se levantar. Desapareceu há mais de dois meses, sem me ter dado tempo para o conhecer melhor, e ainda ninguém na CMTV pegou nesta tragédia. Por favor, divulguem. Afonso, se me lês: gostamos muito de ti e queremos-te conosco.