Às vezes só nos tornamos sensíveis a uma causa quando ela nos é próxima, mesmo que em boa verdade não saibamos o quão próxima ela pode estar. Olhamos de lado as estatísticas que dizem que x em cada x pessoas passarão por determinada doença. Sabemos que na lotaria da vida as coisas não funcionam como dizia aquele rapaz no café: se vejo uma pessoa comprar 5 raspadinhas, compro outras 5, porque dizem que uma em cada dez raspadinhas tem prémio.
Então, num exercício de pseudo-defesa inconsciente, evitamos pensar nisso (na possibilidade da doença, não do prémio da raspadinha). E certas doenças passam a ser tabu. Os seus nomes passam a ser palavrões. Repitam comigo: demência.
O conhecimento é o primeiro passo para a prevenção. O conhecimento é que constitui uma forma de defesa. E tão importante como isso: é o primeiro passo para que possamos compreender e ajudar quem sofre de demência (esse palavrão, ao qual temos mesmo de perder o medo). Hoje, a ALZHEIMER PORTUGAL lança a fantástica campanha #amigosnademência, que nos obriga a recordar como a pessoa é mais do que demência.
Vejam o vídeo depois do registo no site Amigos na Demência. Vamos todos aprender qualquer coisa hoje?
Tenho cinco bilhetes familiares (para 4 pessoas) para oferecer aos leitores deste blog, em parceria com a Alzheimer Portugal. Aproveitem para ouvir música ao vivo enquanto se juntam a um evento por uma boa causa.
Participem enviando um email para daspalavras@sapo.pt com o assunto "CONCERTO" e o vosso nome no conteúdo. Os primeiros cinco emails recebem os bilhetes (quatro cada).
Peço-vos que participem apenas se puderem ir. Aproveitem para levar os vossos filhos, ou os vossos pais, ou os vossos sogros - ou quem queiram, que eu não tenho nada a ver com isso - numa noite muito especial.
Para quem não ganhar desta vez ou queira levar mais gente, eis a informação oficial do evento:
14 artistas portugueses juntam-se no Dia Mundial da Doença de Alzheimer para um concerto solidário, em que todos os fundos angariados revertem para a Alzheimer Portugal.
Donativo mínimo por pessoa: 15€
Preencha o formulário e receberá um email com os dados para pagamento do donativo:https://goo.gl/QABP8Z
Quando recebi o convite da Alzheimer Portugal disse que tinha muito que fazer e recusei delicadamente, mas depois o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (entre outras figuras públicas, como a Fátima Lopes ou a Isabel Angelino) fizeram pressão e disseram que só participavam se eu também entrasse na iniciativa. Não tive hipótese.
Portanto foi como muita honra que me juntei a uma excelente iniciativa da associação Alzheimer Portugal, que visa que partilhemos memórias que queremos guardar para sempre. Como sabem é algo que me diz bastante - talvez por isso goste de escrever para recordar - pois apesar de não ter ninguém próximo com esta doença, é uma das que mais me toca.
Vejam a minha história para guardar (se virem os outros vídeos já partilhados desde o início do mês, percebem como sou a ovelha negra do grupo, até no que escolhi partilhar) e juntem-se ao desafio também: gravem também um vídeo em que comece com "A memória que eu gostaria de guardar...", partilhem com as hashtags #memoriasparaguardar#passeiodamemoria e #alzheimerportugal (ou se preferirem, escrevam, vá, se preferirem, o que interessa é que se juntem a esta causa que pretende pôr esta doença em destaque para que a doentes e cuidadores seja dada a devida atenção e apoio).
Estes factos foram recolhidos no site da Alzheimer Portugal (onde podem obter muito mais informação) com o apoio de uma porta-voz da instituição. Claro que os comentários parvos são meus. Mas nada como usar o humor para aligeirar uma situação que de ligeira não tem nada. São dez factos importantes. A saber:
Ninguém tem Alzheimer.
O que as pessoas têm (infelizmente) é a doença de Alzheimer. O Alzheimer é o senhor Alois Alzheimer que identificou a doença em 1908. Por isso “ter Alzheimer” seria ter o senhor lá em casa – ora o homem até já morreu e a família podia não gostar muito disso. Como já foi em 1915 que morreu, aposto que vocês também não iam adorar.
É o tipo mais comum de demência.
50 a 70% dos casos de demência são de Doença de Alzheimer. Pelo que, pelo menos, devíamos saber dizer o nome corretamente...
Não é tão hereditária como pensamos...
A forma mais comum da Doença de Alzheimer, afeta pessoas independentemente de haver casos na família ou não e até à presente data o único fator de risco evidente para o desenvolvimento desta doença parece ser a existência prévia de um traumatismo craniano severo. Há um gene apenas identificado como estando associado à doença (ApoE14) e que portanto pode ser transmitido de pais para filhos, mas também pode ser transmitido sem que a doença se venha a manifestar (o que acontece em metade dos casos). Neste caso, nem estamos a falar do tipo mais comum de Doença de Alzheimer, mas de um tipo que se desenvolve entre os 40 e os 60 anos e que apresenta um número reduzido de casos face à Doença de Alzheimer mais comum que surge a partir dos 65.
O esquecimento não é o único sintoma.
E se eu disser que os sintomas incluem, por exemplo, coisas simples e que não associamos normalmente à doença, como: apresentar um discurso vago durante uma conversa, perder entusiasmo na realização de atividades anteriormente apreciadas ou demorar mais tempo na realização de atividades de rotina? Faz-nos querer estar um bocadinho mais atentos, não é?
Pode ser confundida com depressão ou...carências nutricionais!
É verdade...não tem um diagnóstico tão direto como pensávamos, pois não? As pessoas começam a ficar esquecidas e já está...Só que não! O diagnóstico, que importa ter o mais cedo possível, é obtido através de uma série de exames e análise da pessoa e do seu historial. E 100% de certezas, só mesmo após a morte, ao observar o tecido cerebral.
Ter diabetes, colesterol, tensão alta...são fatores de risco.
Não basta não ser tão genético como pensávamos: a verdade é que podemos fazer alguma coisa para não alimentar esta doença. Uma dieta equilibrada e exercício físico podem ser chave (normalmente só ouvimos falar em exercícios mentais, mas o Sudoku não é mais importante que o “mexer o cu”). Não há nada que possa prevenir a doença de Alzheimer garantidamente (pelo menos identificado, até ao momento), mas o exercício físico e mental, bem como os bons hábitos alimentares, podem ajudar a reduzir o risco ou adiar o seu desenvolvimento.
Devíamos todos saber um bocadinho mais sobre isto.
A Demência afeta 1 em cada quatro pessoas a partir dos 85 anos. Tendo em conta que a esperança média de vida é cada vez maior há uma alta probabilidade de nós ou um dos nossos vir a sofrer com a Doença de Alzheimer. Nesse sentido todos deveríamos ter mais informação sobre a doença, desde os fatores de risco – que já vimos que estão longe de ser maioritariamente genéticos – aos sintomas, às formas de lidar com a doença.
As mulheres são mais afetadas.
As mulheres constituem entre dois terços e três quartos das pessoas com demência. O risco de demência duplica a cada 5 anos depois dos 65 anos, sendo a idade o maior fator de risco. A esperança média de vida é mais elevada nas mulheres, pelo que existe um maior número de mulheres com demência.
Não há cura.
Há medicação que pode ajudar a estabilizar a doença e a combater outros efeitos da mesma (como a depressão) mas a doença não regride, nem se cura. Pelo menos não até ao momento.
O Passeio da Memória é mais do que um passeio no parque.
O evento ocorre anualmente e em vários pontos do país e todos estamos convidados: não só doentes e cuidadores, mas toda a gente que encaixe na categoria “ser humano”. E agora que penso nisso, talvez até possam levar os vossos animais de estimação. É um importante momento de sensibilização para a doença, em torno da data em que se marca o Dia Mundial da Doença de Alzheimer (21 de Setembro) e de recolha de donativos, organizada pela Alzheimer Portugal. A inscrição/donativo são 5€ e podem juntar-se ao “Passeio” aqui. É a altura do ano em que se ouve falar mais da doença – e tendo em conta que é uma doença que pode afetar cada um de nós ou dos nossos familiares (nunca sabemos – não sou da política do medo, mas sou da política da informação-na-mão) talvez seja bom gerar todo o impacto possível. Vamos todos?
[Nota: Normalmente quando publico um artigo no Aprender Uma Coisa Nova por Dia não o replico no blog, mas suspeito que este tema mereça mais réplicas que um terramoto, pelo que aqui fica. Sintam-se à vontade para partilhar também, as vezes todas que quiserem.]