É verdade que ninguém me obriga. Vou ver o Spectre porque o Moço gosta e porque quero rever os amigos que nos desafiaram para isso (e que às tantas até estão a ler). Mas, se me permitem, posso fazer birra?
Não me intrepretem mal, também gosto dos filmes do 007 e este até pode ser muito bom - não duvido que possa ser e que eu vá gostar de o ver e tudo, mas:
É uma sequência de filmes que parece a Malhação (lembram-se?), nunca mais tem fim.
Este último Bond, o Daniel Craig, tem aparência de espião do KGB, muito mais do que um defensor de "Sua Majestade". Estou sempre à espera do filme que descobrimos que é um infiltrado e todos os vilões dos filmes anteriores estavam afinal do lado do bem, para o abater.
É o meu tipo de filme domingo-à-tarde-em-casa-tudo-bem-mas-não-me-apetece-pagar-para-ver.
Se querem saber como se sente uma sardinha em lata perguntem a alguém que já tenha passado por isso, não se vão enfiar no meio do povo que corre para as estreias.
O moço diz que depois de ir posso pedir o que quiser que ele faz. Creio que ele não sabe no que se está a meter com este cheque em branco, mas vou aproveitar. Aceitam-se sugestões.
Queria escrever. Iamos a meio de um passeio e lembrei-me de coisas que queria escrever. Precisava registar para mais tarde e as palavras eram algumas, o telemóvel não dava. Tinha uma caneta e nenhum sítio onde assentar as frases que já me estavam a querer fugir. Entramos os dois numas quantas lojinhas daquele sítio que não conhecíamos assim tão bem, mas em nenhuma havia cadernos.
Sentamo-nos numa esplanada à beira-mar, a beber uma água fresca (fosse eu uma blogger in, e poderia muito bem ser un gin). Avistei uma espécie de banca de artesanato que talvez fosse a minha salvação. Pedi licença e fui espreitar. Nada onde se pudesse escrever - só postais. Voltei ao meu lugar. Estava oficialmente de birra. Não me apetecia conversar, nem nada. Só escrever e não tinha solução. Abandonei-me ao mau feitio. Fiz que tinha cinco anos e não queria saber. De nada.
Levanta-se o Moço e desaparece por uns minutos. Eu fico a ler, contrariada. Quando reaparece tem um bloco de notas. Pequenino. Perfeito.
E ocorre-me que eu não sou assim. Que sou controlada. Que não me largo simplesmente aos problemas. Que sou uma solucionadora, que me desenrasco, que vejo o lado melhor e me adapto. Ocorre-me que a birra que faço, como se tivesse cinco anos, só a faço ao pé dele. Como talvez fizesse em pequena, ao pé dos meus pais. Ocorre-me que me sinto protegida, que sei que ele toma conta de mim. Que faço cara feia por ter a certeza que ele me arranca um sorriso a seguir. Ocorre-me a sorte que tenho por me poder dar ao luxo de fazer birras.