"Aqui está com quem não faz mal partilharmos uma cama:
A nossa irmã, se formos raparigas; o nosso irmão, se formos rapazes; a nossa mãe, se formos raparigas e o nosso pai, se tivermos menos de doze anos ou ele mais de noventa. A nossa melhor amiga. (...) Um modelo espanhol, um cão bebé, um gato bebé, uma daquelas minicabras domesticadas. Uma almofada de aquecimento. Um saco de batatas fritas vazio. O amor da nossa vida.
Aqui está com quem faz mal partilharmos uma cama:
Qualquer pessoa que nos faça sentir que estamos a invadir o espaço dela. Qualquer pessoa que nos diga que «simplesmente não consigo estar sozinho neste momento». Qualquer pessoa que não nos faça sentir que partilhar uma cama é a atividade mais aconchegante e sensual do mundo (a não ser, claro está, que seja um dos parentes atrás mencionados; nesse caso, devemos ter uma atitude carinhosa, mas também reservada/ligeiramente incomodada).
Agora, olhe para a pessoa que tem ao seu lado. Cumpre estes critérios? Se não, remova a pessoa ou remova-se a si. Mais vale ficar só."
Do livro Não sou esse tipo de miuda, de Lena Dunham. Porque até os livros de que não gostamos têm pérolas.
Já te disse mil vezes. Tenho saudades da cama de solteira em que nos aninhávamos na minha casa velha. Aquela que era horrível porque estávamos sempre com calor e nos tínhamos de encavalitar e encontrar e encolher. Aquela em que não nos podíamos virar sem destapar o outro ou - no teu caso - tirar o lençol de baixo todo do sítio. Onde tu estoicamente passavas todas as tuas nossas noites, no colchão liliputiano, mesmo com a cama de casal à tua espera na casa dos teus pais.
É que esta é muito grande. Cada centímetro que fica entre nós tem, para mim, a distância de uma milha. Se não dormes comigo então, o que acontece mais vezes do que gostaríamos, fico sem saber onde me encostar. Fico do meu lado, sossegada, como que à espera que alguém me dê permissão para sair do meu lugar.
Já não consigo pôr-me ao meio da cama. Não sei quando é que isto aconteceu. Eu, a miss não-me-toques-nos-pés-prefiro-dormir-sozinha-quero-isto-tudo-para-mim-só-para-mim-e-o-ideal-era-mesmo-quartos-separados-para-dormir-em-paz-e-ser-chique.
O lugar de lá é teu. O lugar ao meio é nosso. E o meu lugar, deixou de ser divertido ou aconchegante - é só frio e solitário.