Os homens são de Marte, as mulheres são de Picasso
"Será necessária uma sala para as promotoras trocarem de roupa, com um espelho para fazerem as pinturas".
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"Será necessária uma sala para as promotoras trocarem de roupa, com um espelho para fazerem as pinturas".
Esta é a minha hipótese: humor, ou sentido de humor, é, na verdade, um modo especial de olhar para as coisas e de pensar sobre elas. É raro, não porque se trate de um dom oferecido apenas a alguns escolhidos, mas porque esse modo de olhar e de raciocinar é bastante diferente do convencional (às vezes, é precisamente o oposto), e a maior parte das pessoas não tem interesse em relacionar-se com o mundo dessa forma, ou não pode dar-se a esse luxo. (...)
Trata-se de entender as pessoas, os objectos, as ideias, a linguagem como brinquedos, feitos de peças que é possível organizar de outra forma, acrescentar, subtrair, deformar, virar ao contrário, pôr noutro sítio.
O mestre Ricardo Araújo Pereira n'Uma espécie de manual de escrita humorística chamado A doença, o sofrimento e a morte entram num bar.
Se me perguntarem o que é que prefiro que sobreviva, o meu corpo ou estas histórias, eu não hesito. Se estiver numa prisão e tiver uma escolha dessas, não penso duas vezes. Tenho de salvar as histórias, salvar as ideias. Se eu as passar a outra pessoa, se ele as amar como eu, passa a ser eu, pois as coisas que amamos confundem-se com as coisas amadas, e só os manerismos são diferentes. As histórias sou eu (...). Sacrificaria o corpo e tudo o resto. O que é tudo o resto? Esta mania que eu tenho de comer pouco? Este feitio tolerante? Isso não vale nada, absolutamente nada. Deito tudo fora para salvar as ideias, e cada vez que as passo a alguém (...) reencarno.
Afonso Cruz in Para onde vão os guarda-chuvas
[Vão ter de aturar pelo menos mais uma citação deste fabuloso livro, deste fabuloso autor. Há livros com bons argumentos. Há livros com sentido de humor. Há livros com boas personagens. Há livros bem escritos. Há livros com metáforas maravilhosas. Há livros com lições. E há este livro, que é isso tudo num só.]
[Encontrei o Fernando Pessoa numa parede da Herdade da Sanguinheira. Logo na sua-minha voz favorita que é a do pragmático pastor Alberto, de apelido Caeiro. Até nas fotos que gosto de rever, são as palavras que (me) ganham. Vou ali sentir o vento e já volto.]
(Curioso como ninguém acha estranho um bebé ser sócio de um clube, mas toda a gente nos acha esquisitos por termos inscrito o nosso filho na biblioteca. Adiante.)
In Palavras que Enchem a Barriga, Joana Macieira
*E eu gosto imenso "da bola" e do meu Sporting, ok? Mas esta situação mostra a disparidade das nossas prioridades. As prioridades que passamos ao nossos filhos.
Num episódio de Uma Família Moderna, uma personagem fala sobre campismo:
A única forma de eu passar três dias num bosque, é estar morta há pelo menos dois.
Tão eu.
(Todas as pessoas têm direito a descanso, menos as mães. Para cada tarefa, profissão ou encargo há direito a uma folga, menos para as mães. Se alguma mãe demonstrar a mínima fadiga de ser mãe, haverá logo uma besta, ignorante de limpar baba e de parir, que se oferecerá para a pôr em causa. Não é mãe, não sabe ser mãe, não foi feita para ser mãe, dirá. Mas, se todas as pessoas têm direiro a descanso, será que as mães não são pessoas? A culpa é nossa. Sim, a culpa é das mães. Deixámos que fossem os filhos a definir-nos.)
José Luís Peixoto, in Em teu ventre
"(...) aquilo que desejo aos meus filhos é cidades e pessoas, montanhas e horizonte, desejo-lhes Nova Iorque e a Amazónia, desejo-lhes São Petersburgo e o entardecer lento da savana africana, desejo-lhes sorrisos da Tailândia e sake de Quioto."
José Luís Peixoto, aqui.
"Gosto tanto do teu cabelo assim. Fazes-me lembrar uma personagem de desenhos animados."
Um dia uma doente disse-me que os filhos só são difíceis nos primeiros quarenta anos da vida deles.
Disse a Joana, no seu Palavras que enchem a barriga.
Agora, deixem-me em paz, quero ser só tia por um bom tempo bocadinho.
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