Reality check.
Quando os teus pais deixam de ter uma escova de dentes para ti no copo deles.
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Quando os teus pais deixam de ter uma escova de dentes para ti no copo deles.
A dor está na génese de muitas coisas boas.
Doem os dentes que começam a rebentar na boca do bebé de meses. Dói à cabeça à estudante de direta que tem de decorar 600 páginas de vocábulos impossíveis. Dói o músculo cansado de quarenta minutos de cycling no ginásio. Doem no lombo as horas extraordinárias de trabalho do motorista dos expressos. Dói o diafragma do saxofonista que acaba o concerto da sua vida. Doem as contrações na fase final final da gravidez - e os pés inchados, senhor, durante os nove meses. Doem os braços de carregar as malas até ao hotel que marcamos naquela cidade onde vamos passear uns dias e fica longe da estação. Dói o coração outra vez desfeito da nossa amiga.
Às vezes - muitas vezes - não faz mal termos de nos enroscar em nós mesmos e gemer até àquele momento distante (seja dali a meia hora ou meio ano) em que a dor passa. Porque às vezes - muitas vezes - a seguir à dor a vida traz um analgésico muito mais poderoso. Porque às vezes - muitas vezes - sem essa dor não saberíamos o sabor do alívio. E sempre - não só as vezes - a dor faz-nos crescer.
Comer caracóis e lavar a loiça.
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