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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

20
Jun19

Diário da Islândia #6 | Missão: sobreviver

Maria das Palavras

Local de Partida: Horgsland, Islândia

Local de Chegada: Vik, Islândia

 

Apesar de, como expliquei no episódio anterior, os donos do alojamento em Horgsland nos quererem deixar ao relento, sem nos deixarem fazer late checkout quando havia toda uma tempestade a decorrer, não queriam que falecessemos de barriga vazia. O pequeno-almoço fica na memória como sendo um dos melhores da minha vida, com waffles feitos no momento e o famoso pão de centeio (rye bread). O pequeno-almoço tomava-se num hotel diferente, um pouco mais acima na estrada. Depois ficámos fechados no quarto até à hora de nos atirarmos à morte na estrada, ignorando os alertas. Não façam isto em casa.


Tivemos portanto uma subtil mudança de planos. Inicialmente, a ideia era visitar duas cascatas, o avião despenhado e duas praias. Com as alterações climáticas passou a ser chegarmos vivos a Vik.

Skogafoss - Maria das Palavras na Islândia

Pelo caminho, as condições foram melhorando e acabámos por visitar as duas cascatas. Primeiro Seljalandsfoss, que se vê logo da estrada e onde me deixei salpicar. Depois Skógafoss. Que é muito bonita, tal como toda a envolvência, mas amaldiçoo o momento em que concordei em subir as escadas para vermos a vista de cima. São 527 degraus. Suei na neve, minha gente. 

 

tenor.gif

 

De seguida visitámos dois dos locais de filmagem de Game of Thrones na Islândia (embora não especificamente por causa disso). Dyrhólaey. Não sei explicar a sensação, mas fiquei bastante impressionada com aquela composição da natureza.

 

Dyrholaey - Maria das Palavras na Islandia

 

E a praia de areia negra Reynisfjara, já perto de Vik. Onde o que mais impressiona é o penhasco de basalto com formas de paralelipípedos desenhadas. Se os homens da Night's Watch lá estiveram na temporada sete, nós estivemos em 2018. E o Moço, armado em blogger, levou o corta-vento ideal para fazer contraste nas fotos. 

 

Reynisfjara Beach - Maria das Palavras na Islândia

 

Creio que foi também neste dia (assim rezam as minhas notas) que o Moço trespassou dois metros um placa que dizia Propriedade Privada para tirar uma foto ao longe e levou um belo sermão por causa disso, de um senhor (talvez o dono?) que se deu ao trabalho de vir bater no vidro do carro para ralhar pós-foto. Na Islândia, é suposto as pessoas repeitarem regras. Imagine-se uma coisa dessas. 

 

giphy.gif

 

Foi um dia bastante chuvoso, mas mais tranquilo do que previsto e acabámos a conhecer estes locais absolutamente irrealísticos. E ainda assim, de alguma forma, reais. Chegámos cansados ao nosso alojamento a Vik, mais caro, mas mais familiar, com amor nos detalhes (ah, o amor de ter condicionador de cabelo para o banho). Chamava-se GuestHouse Carina. Tudo o que precisam de saber, além de que era acolhedor, é que também nos ofereceu um pequeno-almoço espetacular, com papas de aveia, mais waffles e café expresso (!). E bem precisávamos, porque no dia seguinte íamos viver a aventura de uma vida. E eu fico entusiasmada só de voltar a pensar nisso. 

 

 

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03
Abr18

Diário da Islândia #5 | Golden Circle

Maria das Palavras

Local de Partida: Reykjavik, Islândia

Local de Chegada: Horgsland, Islândia

 

No quarto dia chegou a hora de deixar a área mais urbana e rumar aos encantos naturais da Islândia, fazendo parte daquilo a que se chama a Golden Tour. Ao trilhar novas estradas percebíamos a cada minuto mais o encanto desse país, só enquanto íamos do ponto A ao ponto B. 


maria na estrada da Islândia - Maria das Palavras

 

O tempo estava bom, mas a neve ainda pintava grande parte da paisagem, pelo que saltámos uma parte do plano que incluía a visita às Reykjalador Hot Springs. Uma lagoa termal natural, mas um pouco inacessível, que incluía uma boa caminhada por percursos desconhecidos na neve. Apesar do tempo estar bom, começava a falar-se de uma grande tempestade que aí vinha e o Trip Advisor falava de duas horas para ir e mais duas para voltar, o que nos tomava uma boa parte do dia.

 

A primeira paragem foi Kerid, a Cratera vulcânica, que na maior parte das fotos do Google verão como tendo um círculo de água azul leitoso, mas nós vimos assim: 

 

kerid, a cratera vulcânica - Maria das Palavras

 

Como expliquei saltámos Reykjaladir e substituímos essa lagoa termal pela Secret Lagoon. Cujo uso também é pago, mas é um sítio um nadinha menos turístico do que a Blue Lagoon, onde tínhamos adorado estar de molho. Pelo caminho, avistámos CAVALINHOS. E perdi a cabeça.

 

Cavalinho Branco - Maria das Palavras na Islândia

 

Não estavam propriamente à beira da estrada, mas eram tão bonitos, enquadrados numa paisagem tão inesquecível, que o Moço parou o carro e tirou fotos ao longe, enquanto eu fui andar uns 200 metros a enterrar as botas na neve para chegar ao arame farpado que guardava os cavalinhos. Valeu a pena. Tirei muitas selfies com o branquito e conversei um pouco com todos eles, a agradecer a simpatia, como uma verdadeira chanfrada. 

 

Cavalinhos - Maria das Palavras na Islândia

 

A tal da Secret Lagoon, mesmo assim, tinha mais gente do que o esperado, mas uma vista linda diferente da Blue. E era mais quente ainda. Aliás, em determinadas zonas tinha avisos, porque pôr lá o pézinho, numas zonas de água ali mesmo ao lado, era mesmo sinónimo de esfolar a pele - estava a mais de 100º. Quando pensarem nestes cenários idílicos, ignorem sempre que há um forte cheiro a enxofre no ar. 

 

Secret Lagoon - Maria das Palavras na Islândia

 

Fomos ver o Geysir - Strokkur, a seguir. Não o vimos a explodir a grande altura - porque não temos a paciência dos chineses para esperar ali por horas) mas vimos o fenómeno natural por umas duas vezes (a água fervilhante sobe a cada 7-15 minutos). Fenomenal mesmo era a sopa de cordeiro do Geysir Center (no Glima, do lado da estrada oposto ao Geysir). Vem com pão com manteiga e permite refill - pedimos uma para cada um, mas podíamos bem ter abusado do refill para comer os dois e pagar só uma...

 

Strokkur e Sopa de Borrego - Maria das palavras na Islândia

 

O próximo ponto de visita (muito perto dali) é de uma magnitude que não se explica em palavras, nem se traduz em fotos ou vídeos. Nevava, a paisagem era toda branca, e a sequência de cascatas que compõem Gulfoss, equiparada às Niagara Falls, mas que cai ainda com mais força, é inexplicavelmente poderosa. Vemos as cascatas de cima e no horizonte, assim todo alvo, quase conseguimos ver os White Walkers a aparecer (mas são turistas). Não fosse o frio, tinha tirado a luva para dar uma chapada à turista a quem ouvi a frase "já fotografaste isto?" para uma colega de viagem. Quando a pergunta correta teria sido: já viste isto?

 

Maria das Palavras em Gulfoss

 

Já disse que nevava?

 

O Moço debaixo de neve na Islândia

 

Depois voltámos uns quilómetros atrás para chegar ao nosso alojamento, porque o que visitámos nesse dia era um pouco a dirigir-se para o centro da ilha e a seguir íamos mais para Sul. Todo o percurso se acomodou muito bem num dia - notem que a velocidade máxima é de 90km/h e mesmo essa velocidade furiosa é só se estiver tempo impecável. 

 

maria na islândia - há neve!

 

A Skyr Guesthouse foi um dos sítios mais bonitos onde ficámos, com uma decoração cheia de bom gosto - até o WC partilhado era apetecível, mas mesmo assim eu mandava o Moço ir bater à porta antes de eu o usar. Quisemos comer no restaurante dos mesmos donos que fica no edifício anexo (e que serve de receção), sabendo que era um pouco caro, porque queríamos falar com os anfitriões. É que nesse momento já havia por todo o lado avisos de alerta de tempestade com trejeitos de furacão para o dia seguinte. Pouco habituados a esse tipo de tempo e muito avisados para não arriscar quando os sites de estradas e meteorologia davam tais indicações, tentámos pedir um late checkout para ficarmos no hotel um pouco mais enquanto a tempestade passava. Recebemos um não como resposta e ainda pagámos caro para comer mal - o cordeiro era bom, mas pouco, a sopa de lagosta só sabia a natas. 

Portanto era efetivamente a nossa última noite. Restava saber se em Horgsland, ou no mundo...

 

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20
Mar18

Diário da Islândia #4 | Ainda na Capital

Maria das Palavras

Local de Partida: Reykjavik, Islândia

Local de Chegada: Reykjavik, Islândia

 

Ora movendo a conversa da lagosta que neste dia ainda há muito por comer. Hããaa...dizer! E mostrar! E se acharem mínima graça às fotos, vale lembrar que há mais no Instagram @mariadaspalavras que não serão publicadas aqui (para não vos maçar). 

A chuva começou  picar-nos por volta desta hora, mas não constituiu problema: o próximo passo era visitar o Harpa, o maior centro de espetáculos do país e também com uma arquitetura vanguardista. Aproveitámos para recarregar baterias em todos os sentidos: descansar um bocadinho e dar energia à máquina fotográfica. 

Harpa Concert Hall - maria das Palavras na Islândia | Reykjavik

 

Depois continuámos pela linha da água com uma vista assim a este nível, mesmo enevoada: 

 

vista da costa em reykjavik - maria das palavras na Islândia

 

Até chegarmos ao Sun Voyager (ou Sólfar), uma escultura dedicada ao Sol e representante da esperança, que faz lembrar um cruzamento entre um esqueleto de baleia e um barco viking: dois elementos muitos fortes na Islândia, apesar de não ter visto nenhum fora das lojas de recordações (nem baleias, nem vikings). 

 

sun voyager - reykjavik - maria das palavras na islândia

 

Percebe-se porque têm uma estátua dedicada ao Sol nesta terra - embora não se perceba como estão ali aquelas pessoas na foto sem escorregar. Tão depressa ele não se esconde meses a fio, como se deita com as crianças. No Inverno, neste Fevereiro, anoitecia pelas 18h, pelo que começámos num passeio vagaroso de volta ao nosso alojamento. E passear nesta cidade é ver cores, ver luzes de Natal, ver candeeiros às janelas. Isso e roulottes de waffle com Nutella onde também se pode pagar com Multibanco - já disse que lá se paga tudo com Multibanco? Era eu a comer o dito e a Nutella a voar ao vento. Mas feliz. 

 

maria das palavras na islânida - as ruas de reykjavik

 

Excluindo: (1) o Perlan que deixámos de parte propositadamente - é um museu sobre a beleza natural da Islândia e tencionávamos vê-la ao vivo, com um bonito miradouro, mas já tínhamos ido ao da igreja, (2) o Museu Falológico (sim! isso) e (3) uma parte da rua das compras (que não tencionávamos fazer porque o luxo na Islândia é comer); depois desta humilde passeata, tínhamos dado à volta à cidade pelos pontos mais importantes. E sim, um dia chega perfeitamente para experimentar Reykjavik, mesmo que quiséssemos fazer as outras coisas. O nosso roteiro de um dia foi assim, em 7 quilómetros:

Roteiro de 1 dia em Reykjavik - Maria das Palavras na Islândia

 

E depois chegou a refeição para a qual andávamos a guardar as pupilas e as papilas. Como já disse 367 vezes sobre esta viagem, comer é deveras caro na Islândia. O problema é que também é extremamente bom: peixe e marisco fresquíssimo, borrego de chorar por mais (lamb! lamb! lamb!), o tal do pão de centeio feito na terra quente das hot springs e Skyr upa-upa-nada-a-ver-com-o-que-se-vende-cá-e-de-todos-os-sabores. A gastronomia deles e os chef's são reconhecidos e já tínhamos posto uma fatia de viagem de parte para ir a bom restaurante, deleitar a barriguinha. 

Com a ajuda do Trip Advisor e uma reserva feita antecipadamente, ainda em terras lusas, fomos ao Resto. Onde comemos um folhado do bacalhau mais fofo que tive o prazer de conhecer, um queijo incrível no forno, borrego muito bem confecionado e o peixe  com lagosta que moram nos meus sonhos. 

 

resto - restaurante em reykjavik - maria das palavras na Islandia


Felizmente não temos hábito de beber alcoól às refeições e as sobremesas não eram do meu agrado, o que tornou possível ir lá comer sem ficar a lavar pratos. Estou a brincar. Não foi assim tão caro, embora o seja para os padrões de quem está agora habituado a deliciar-se no Porto ou em Espinho. Aliás, percebemos logo que não ia ser incomportável (além da pesquisa feita). O sítio era fino o suficiente para ter onde pendurar os nossos casacos, mas não tanto que não tivéssemos de ser nós a pendurá-los. Fino o suficiente para servir água (sempre da torneira que eles não bebem outra) em garrafa de vidro, mas não tanto que no-la servissem no copo. Mas era uma atmosfera linda, de meia luz e música calma. E a comida: aiiii...

 

drool

 

Um contraste perfeito com o nosso regresso ao quarto. Onde um vizinho do lado quis meter conversa connosco a explicar um drama qualquer com bagagem que lhe tinha acontecido e eu, que falo bem inglês, percebi pouco mais do que Hi. E o WC do nosso andar parecia um filme de terror, com t-shirts molhadas num canto do chão, papel higiénico espalhado e tudo e tudo. Ah, os fins de noite perfeitos...

 

Não saiam daí, que no próximo texto da Islândia começamos a chegar a cenários ainda mais inacreditavelmente bonitos. E muito em breve...CAVALINHOS!

 

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19
Mar18

Diário da Islândia #3 | Missão: Ficar de pé.

Maria das Palavras

Local de Partida: Reykjavik, Islândia

Local de Chegada: Reykjavik, Islândia

 

É verdade, não me enganei a copiar o local de partida para o de chegada: este dia foi em exclusivo para visitar a capital, que não é enorme mas tem muitos pontos bonitos. Diria que passamos uma boa parte do dia só a aprender a andar no gelo sem cair. E é com um nível espanto que não consigo traduzir que digo orgulhosa: não fomos ao chão. Depois do nevão que nos recebeu e de algumas gotas de chuva, uma boa parte dos passeios estava coberto daquilo a que chamam Black Ice. Já não é neve fofinha, é neve que semi-derreteu, meio que se sujou e deu lugar a uma autêntica manteiga para a sola. E não há bota anti-derrapante que chegue para isto. As técnicas de sobrevivência foram basicamente andar muito devagar (quase para trás) se fossemos obrigados a pisar o gelo, e sobretudo...andar pela estrada com os carros. Sim, eu sei. Andar na via automóvel não costuma ser confundido com uma técnica de sobrevivência. 

 

maria na islandia - andar em reykjavik.jpg

 

Começámos por visitar a Hallgrímskirkja (santinho!) que é uma igreja de arquitetura exterior muito a atirar para o irreverente e que ficava mesmo ali ao pé do nosso alojamento de caixa de fósforo (Andrea Guesthouse). E aqui tenho de fazer uma pausa para falar de outra coisa que também era mesmo ali encostadinha e que vale a visita: o café Loki e o seu gelado de Pão de Centeio. O Pão de Centeio é uma especialidade local (e muito boa). O gelado de pão de centeio é um passo acima a caminho do céu (já que estava a falar de igrejas).

 

Hallgrímskirkja - maria das palavras na islandia.

 

Ora por dentro a igreja era só normalucha. Mas se pagarmos 8€ ou 1000 coroas islandesas para ir lá acima - paguem para ir lá acima! -  temos a melhor vista panorâmica da cidade. 

vista da igreja para Reykjavik - Maria das Palavras na Islândia

 

Por falar em vistas fantásticas, a seguir visitámos um cenário de fotos clássico da Islândia, junto ao lago Tjornin. Apresentou-se gelado que nem um Corneto, sem pinga de água em estado líquido, mas nem por isso um milímetro menos bonito. 

lago tjornin em reykjavik - maria das palavras na Islândia

 

Para fazer o hat-trick (porque a vista lado mais bonito do lado também envolve uma de telhado verde), fomos a mais uma igreja: a Basílica do Cristo Rei. Nada de espetacular, mas vimos uma cena em que o padre se deslocou à caixa de esmolas para fazer a recolha e caíram moedas de tal forma que parecia um jackpot no casino a tilintar. 

 

jackpot

 

Nesta altura a barriga já estava a dar horas e foi a altura certa para irmos dar um passeio junto ao porto onde haveríamos de comer no Seabaron, o restaurante com bancos de bidão de azeite, onde água e café eram gratuitos (água foi em todo o lado, café é de aproveitar) e o peixe em exposição estava tão fresco que saltava. Era um tasco dos mais capazes, onde eu jamais teria ficado se não tivesse feito bem a pesquisa de viagem.

Maria no porto de Reykjavik e no Seabaron - viagem à Islândia

 

Foi lá que sorvi aquela que eu descrevo como uma das melhores sopas da minha vida e o Moço descreveu nesta conversa: 

 

Maria: É maravilhosa, não é?! Que caldo tão saboroso e a lagosta desfaz-se na boca. 

Moço: É boa...

Maria: Agora a sério, estou a ver a tua cara...

Moço: É um bocadinho enjoativa. 

Maria: Não me digas que estás a comer uma sopa da melhor lagosta que já provaste e preferias frango assado?

Moço: Sim...

 

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14
Mar18

Diário da Islândia #2 | Fomos a banhos

Maria das Palavras

Local de Partida: Gardur, Islândia

Local de Chegada: Reykjavik, Islândia

 

Depois do primeiro impacto, o plano do dia era francamente simples: ver o farol que nos soluçou à janela durante a noite mais de perto, tomar um banho de água a 40º no meio da neve e anoitecer em Reykjavik. E é verdade que as coisas mais simples dão memórias para sempre. 

Levámos do hotel um termo cheio de chá quente, conselho lido em diversos blogs (não me perguntem como fiz uma mala de mão para 9 dias no Inverno onde ainda deu para enfiar um termo - mas aconteceu). O vento tinha acordado durante a noite, pelo menos ali tão perto do farol como estávamos, mas enfrentámos o sacana para nos chegarmos mais perto. Valeu a pena. Como valem a pena todos os passeios, por mais pequenos que sejam, nesta terra. 

 

O farol em Gradur - Maria das Palavras na Islandia

 
Foi por volta desta hora que se deu o primeiro avistamente de CAVALINHOS. E vou escrever sempre assim CAVALINHOS para imaginarem o tom agudo e entusiasmado com que gritei sempre que passámos por eles. No entanto, estes estavam muito longe e nós íamos em missão: chegar à afamada Blue Lagoon. Uma lagoa geotermal onde basicamente nos banhamos a 40º quando cá fora está tudo coberto de neve (no dia em que fomos, estavam 40º dentro e -2º fora). Super turístico? Sim. Repetíamos? Também.

Maria das Palavras na Blue Lagoon - Islândia.jpg

 

Basicamente se eu não tivesse cabelinho ralo e companhia de 372 pessoas isto dava uma grande foto. Neste momento do click no entanto, com o cabelo molhado ao léu com a temperatura ambiente negativa, assim esticadinha para ser apanhada pela foto (o Moço atrás da lente, só com um calçonete molhado também) não estávamos bem a sentir como a coisa era super agradável. Mas juro que em todos os outros minutos foi e era menina para ficar lá o resto do dia. Além disso dão máscaras de sílica para usar enquanto estamos na lagoa. Coisa que a blogger comum adora. 
 
Agora reparem que a lagoa é mesmo azul, como diz o nome. Nada como aquelas pessoas que se chamam Esperança e só vaticinam a desgraça, estão a ver? De um azulão tal, que só mostrando numa foto mais bem tirada. Aliás...só vendo ao vivo, mas fica a tentativa. 

 

Blue Lagoon é mesmo azul - Maria das palavras na

 

Eu sei, eu sei. Palmas por termos tirado uma foto sem apanhar chineses. Mas se virem bem, devem ser eles naquelas manchinhas lá ao fundo.

 

Agora a parte verdadeiramente horrível da Blue Lagoon e que vos pode fazer repensar a visita: os balneários. Estão, sim, em perfeitas condições, tendo cacifos, gel de banho, secadores etuditudo. Mas os islandeses levam MUITO a sério a história de se tomar banho todo nu antes de ir para estas lagoas, uma questão de higiene compreensível. Mas não quero falar mais sobre isso. Até porque apanhei traumas para a vida (não se passou nada de extraordinário, mas eu sou uma fresquinha com essas coisas das pendurezas alheias à vista...não percebo porque se me despir na via pública é crime e num balneário não, já que há muita gente, incluindo crianças, a ver na mesma). Claro que tomei banho numa das cabines fechadas, mas respeitei a ordem de tomar banho peladinha antes de ir a lagoa. Já o Moço...

 

giphy.gif

 

Ora bem, a seguir fomos almoçar a um sítio tipicamente islandês ('tá bem, abelha): o IKEA. Isto porque ainda estávamos no início da viagem e a tentar não queimar os cartuchos (AKA o dinheiro). Mesmo assim comer lá num sítio assim custa tanto como comer num restaurante bom por cá. A seguir fomos ao Bónus, a cadeia de supermercados recomendada pelos preços mais em conta (mesmo assim, imaginem bocados de pão a 8€) buscar lanchinhos e outras comidinhas para nos safarmos nas cozinhas das Guesthouses nalgumas refeições. 

 

Particularidades do supermercado: não há salsichas em lata, os legumes e frescos ficam em casinhas separadas, o alcaçuz é rei na parte dos doces. 


No caminho para Reykjavik, estrada fora, começámos logo a perceber como simplesmente andar de carro em curtas distâncias era logo garantia de paisagens magníficas. E ainda não sabíamos da missa a metade. Chegámos à capital e o Moço estacionou em cima de neve e gelo como se tivesse feito isso a vida toda. Fomos conhecer o nosso modesto quartinho na cidade grande. Que não parecia tanto um quarto como uma gaveta. Ou vá, o puxador da gaveta.

Mesmo assim as condições eram boas, apesar do tamanho da nossa suite. Três andares, três WC e três cozinhas. Se os vizinhos dos quartos não fossem porquitos a coisa até se afigurava mais do que aceitável. Se...se...não percam os próximos capítulos. 

 

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13
Mar18

Diário da Islândia #1 | Primeiro impacto

Maria das Palavras

Local de Partida: Espinho, Portugal

Local de Chegada: Gardur, Islândia

 

Acordámos bem cedo, já de malas feitas para fazer o caminho até ao aeroporto. Eram cinco e meia da manhã, estou a juntar os tarecos para um banho rápido e seguir, quando começo a ouvir clac-clacs da cozinha. O Moço achou que aquela hora e aquela instância eram pois ideais para arrumar a louça lavada que estava na máquina, para a pobre não ficar esquecida. Expliquei que na categoria fada-do-lar me estava a der 10 a zero, mas na categoria de acordar e enfurecer a vizinhança estava a conseguir uma pontuação ainda mais alta. Ainda por cima ele não sabe fechar armários sem imitar um terramoto de magnitude 5 na escala de Richter. 

tenor (1).gif

 

A primeira etapa da viagem falhou logo, porque foi a única que não fui eu a planear ao milímetro (sim, sou dessas). Apanhar um taxi para o aeroporto (não de Espinho, mas de outra zona onde pudemos deixar o carro em segurança) provou-se mais complicado do que apanhar o avião. Conclusão: pagámos mais ou menos o mesmo para chegar ao aeroporto do que pagaria para chegar de avião a 70% dos destinos europeus às quartas-feiras. 

 

Depois da grande aventura com a TAP (parte 1parte 2 - parte 3)...ia voar na TAP. Sem medos. Apesar do não-há-duas-sem-três, escolho acreditar no à-terceira-é-de-vez. Isso e deram-me um chocolatinho da Regina para eu me calar e fazer a viagem sossegada. Sempre foi melhor que na Norwegian, na segunda parte da escala de Londres para Keflavik (Islândia) onde nem um cafézinho para contar a história. Eu sabia que a comida na Islândia era caríssima e que ia passar fome por lá, mas não contava começar logo no avião. Até ganhei saudades da micro-sandoca de fiambre da TAP. Que é fiambre de peru, e portanto pode ser comida por bloggers. 


De repente começamos a ver neve pela janela do avião. Muita neve. Só neve. O que pareciam nuvens era neve. E o que parecia terra era o mar. Por um segundo pensamos que o piloto fez um desvio à Antártida. Certamente aquele manto branco não podia ser um país funcional daqueles com habitantes que trabalham (e sobrevivem) e tudo. Era mesmo o nosso destino. E foi logo aqui que a fase de encantamento começou. 

 

 

neve.jpg

 

Não sei se já tinha dito isto, mas sabem quando vamos à Serra da Estrela e ficamos muito felizes por ver um tiquinho de neve? Imaginem esse sensação multiplicada por todos os centímetros à vossa volta. A Islândia que se apresentou a nós, foi assim.


Depois das vistas do avião que aterrou numa pista também ela rodeada de branco, estávamos psicologicamente preparados para o impacto brutal que ia ser por a bochecha na rua. Não em termos emocionais, mas mesmo o impacto de ver o nariz a cair da cara, vilmente congelado em poucos segundos. Ou foi das expectativas, ou de levarmos toda a roupa possível em camadas (bagagem no porão é luxo), foi muito tranquilo. A verdade é que o país tem aspecto de -35º, mas ronda os 0º. Durante a viagem toda nunca estiveram menos de -4º e chegou aos 7º.


O desafio seguinte era ir buscar o carro e conduzir na neve pela primeira vez. Tarefa que deixei prontamente para o Moço. Primeiro muito devagarinho e depois já em andamento de caracol daqueles mais expeditos, lá fomos. Íamos mais para Este, para uma das pontas com farol, que tínhamos visto do avião: Gardur. Num post final hei-de deixar-vos o roteiro completo, com links do Google Maps, quer para as estadias, quer para os pontos visitados. 

 

Gardur e o Farol - Maria das Palavras na Islândia

 

O fenómento mais engraçado durante a viagem acabou por ser o facto de vermos a aurora em todo o lado. Como passava das seis já estava tudo um breu pegado. E nós aproveitámos todos os bocadinhos de céu para dizer que nos parecia que estava esverdeado.  

 

O primeiro Hotel era o Lighthouse Inn. Muito maneirinho, todo em madeira, e bem valorizado por nós: afinal era a única noite em que íamos ter uma casa-de-banho. Ah, pois. O turismo na Islândia faz-se muito à base de Guesthouses, com casas de banho partilhadas. Torço muito o nariz a isso, mas depois percebi que alinhava ou não iríamos à Islândia (não sem vender um rim). Portanto...sim, casas de banho partilhadas para o resto da viagem.

 

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Não acabámos a noite sem uma aventura. Vínhamos esfomeados (estávamos mesmo a contar com uma tostinha qualquer na Norwegian) por isso depois de pousar as malas quisemos sair para comer. O tanas! Eram nove da noite, o que significa que todos os restaurantes respeitáveis já estão fechados e ninguém de bem passeia na rua. Acabámos no KFC comigo frustrada a pedir Chicken Wings a uma islandesa que nem arranhava o inglês - ao ponto de não perceber o que são Chicken Wings trabalhando no KFC. 

 

Ainda que mal alimentados, dormimos muito bem nessa primeira noite, num quarto quentinho, como de resto eram todos, envoltos por uma paisagem inacreditável e com toda uma viagem pela frente. Afinal, íamos acordar com esta vista da nossa janela...

 

Maria das Palavras na Islândia - A vista da nossa

 

Agora digam alto a terra onde estávamos: Gardur. Isso. É que é a última vez que vão conseguir pronunciar o sítio onde estamos...

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