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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

04
Nov14

Rai's parta as passas

Maria das Palavras

Não basta a perseguição que nos fazem na passagem de ano, ainda têm de me minar o Dia do Bolinho.
Como contei, na minha terra (e no meu tempo) o 1 de Novembro é o Dia do Bolinho e é com essa premissa que pedimos doces às tias - que aqui não são as queques de Cascais, mas as velhotas simpáticas que sabem amassar bolos. Reza a tradição quer eram bolinhos ou merendeiras que se davam nesse dia, mas felizmente já na minha altura eram mais doces.

Ainda assim, quem sabe fazer bolinhos, fá-los nessa altura: broas de mel, merendeiras de noz, bolinhos de abóbora ou batata...
A minha mãe veio a Lisboa e trouxe-me um saco cheio deles, de várias origens (várias tias).

Problema? As passas. As malditas passas que me transformam num esquilo a desfazer cada bolinho aos bocados para não provar nenhuma. Quem as ache boas, que as coma. A mim estragam-me a experiência desta deliciosa broa de mel a acompanhar o chá da tarde.

bolinho.jpg

 

 

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31
Out14

No meu tempo não havia Halloween

Maria das Palavras

Merendeiras - pt.petitchef.com


As máscaras guardavam-se para o Carnaval. E a noite de 31 só não era uma noite como as outras - abóboras só para a sopa porque já antecipávamos a overdose de açúcar do dia seguinte.

No dia 1 acordava cedo e entusiasmada ia ter com o meu primo Tiago para pedir bolinho. Sem adultos atrás. Era de manhã e era seguro percorrer a aldeia. A lenga-lenga a cada porta, de cada grupo de crianças:

 

Ó tia dá boliiiinho!!

 

E os mais atrevidos acresecentavam (mas baixo):

 

Com uma tranca no fociiiinho!!

 

A maior parte das pessoas dava rebuçados (não sabem ate que idade eu disse rubeçados). Delirávamos com os chocolatinhos. Torcíamos o nariz quando as ofertas eram de facto bolos. E tínhamos nojo de morte de quando nos misturavam tremoços húmidos na saca dos doces.
Chegando a casa espalhávamos tudo em cima de uma toalha estendida no chão e começávamos a contar, em competição. Doces às centenas e de lado o que não nos interessava. No bolso umas moedas tímidas, dos velhotes da aldeia que davam 50 escudos a cada um. E uma nota de passar a casa da avó.

Será muito estranho que amanhã uma adulta de 28 anos vá bater à porta das mesmas casa a pedir doces? Apetecia-me tanto...

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