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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

26
Dez18

A minha mãe foi a primeira feminista que conheci (e provavelmente não sabe)

Maria das Palavras

Os meus pais tiveram a graça de terem duas filhas. Sou a mais velha e há uma mais traquinas a seguir. Desde cedo fomos habituadas em casa…a não fazer nada. Pode ser confundido com preguiça (que também temos de sobra), mas foi a educação que a nossa mãe nos deu, o que pode ser ainda mais confuso, mas eu explico.

 

Foto Unsplash - Louça por lavar

 

Vamos mais atrás. A minha mãe teve dois irmãos. Um mais novo e um mais velho. Criada com pais e avós, numa família onde só as mulheres trabalhavam em casa (mesmo que também trabalhassem fora de casa), via-se injustiçada, sobretudo a mando de uma avó, a ter de tratar de todos os afazeres, enquanto os irmãos brincavam livres, em casa e na rua. Ao fim do dia, ao recolher, ainda lidava com as marotices deles, que lhe deixavam um qualquer presente no quarto – por exemplo, a aranha mais gorda que encontrassem no quintal.

Não devem confundir nada disto com maldade. Era a maneira como as coisas eram e não se conhecia outra realidade. Os horizontes estavam fechados.

 

Voltamos a um passado mais recente. Uns 20 anos atrás. Éramos pequenas. Brincamos na sala. Provavelmente eu estou num canto a ler e a minha irmã está a brincar com alguma coisa que não deve. Já temos idade (pelo menos eu) para ajudar a minha mãe na cozinha, mas a minha mãe rejeita a ideia. Ela prefere fazer as camas, tratar da roupa, cozinhar e limpar tudo sozinha. Diz que fez demais quando era menina, só por ser menina, e não quer que cresçamos assim.

 

É verdade que não nos educou para tratar da casa. O correto, provavelmente, seria fazê-lo independentemente do género. O problema é que ela só tinha meninas na amostra. Eventualmente safámo-nos bem: consta que se aprendi quando precisei de me safar, qualquer homem de qualquer idade também consegue, sem ter de usar a desculpa que a isso não foi habituado. Educou-nos antes a pensar que isso não era uma tarefa nossa por default.

 

Hoje olho para trás e dou muito valor ao que a minha mãe faz e sempre fez. Arrependo-me de não ter ajudado mais no passado, ainda que com a sua resistência. Não por mim, que acabei a crescer com os valores certos e desenvolver todas as competências necessárias. Mas por ela, que para resistir ao trauma e o poupar às filhas, o perpetuou nela apenas.

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05
Abr16

Talvez, afinal, eu seja mesmo uma besta.

Maria das Palavras

Comunicação - Imagem Pixabay

Depois desta acusação do Moço e de me terem linchado em praça pública por não querer que me digam "bom dia" quando estou a trocar de roupa no ginásio, passou-se outro episódio. E eu, que acho sempre que sou encantadora (às primeiras, pelo menos, depois torno-me irritante porque quando vou ganhando confiança não me calo e abuso na brincadeira e na ironia e já não me suportam), tive de me render às evidências: sou uma besta (e é mesmo logo às primeiras). 


Estava com uma amiga e o Moço liga-me. Falo com ele, desligo e vejo-a muito séria a olhar para mim.

 

Amiga: Afinal não é só a mim que fazes isto!!

Maria: Isto, o quê?

Amiga: Tu nunca te despedes ao telefone!

Maria: Não é verdade...

Amiga: É, é! Qual foi a última coisa que o Moço te disse?

Maria: Tchau? Beijinhos?

Amiga: Tu não respondeste nada! Só desligaste! Fazes o mesmo comigo. Até já te fiz o mesmo para ver se gostavas, mas tu nem ligaste nenhuma e eu fiquei a sentir-me mal a achar que podias ter mais alguma coisa para dizer e eu cortei a chamada...

 

Pois, meus caros, isto é assim: eu não quero retirar poder a ninguém. Se o Moço (ou a minha amiga) dizem "adeus" estão a terminar a chamada e não precisam da minha validação. Não é preciso eu autorizar. Eles despedem-se e eu limito-me a obedecer. Se dissesse "adeus" também estaria a dizer que eles sozinhos não têm poder aos meus olhos para deter a decisão do fim da chamada - e eu respeito-os muito. 

Pelo menos foi assim que racionalizei a questão e a expliquei. Porque tenho sempre resposta para tudo - inventada na hora. 

 

A verdade é que nunca me apercebi que fazia isto. Que vivi anos a fio sem noção que não respondia ao "adeus" telefónico. Logo eu que sou toda "por favores" e "obrigados". Uma besta, afinal. Peço desculpa à humanidade. Por existir, enfim. 

 

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16
Fev16

Mas...mas...mas...

Maria das Palavras

Está bem, já percebi que a besta sou eu por não achar particular graça a darem-me os bons dias quando estou nua,  suada e contrariada, a tentar fazer-me passar por despercebida, num balneário de ginásio.

Mas...se formos almoçar a casa de uns tios que já não víamos há muito tempo [a história que se segue é real e pode ferir susceptibilidades] e eles perguntarem como parte da conversa "como é que somos dos intestinos"? Também devemos considerar que é só questão de simpatia e descrever animadamente o funcionamento da flora intestinal?

 

Não estou a tentar comparar as duas coisas (até uma anta social como eu percebe a diferença). Estou só a tentar perceber onde traçar limites. E isto tem de ser ultrapassá-los, certo?

 

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26
Nov15

Se vens descalço, podes entrar.

Maria das Palavras

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Lembro-me de ir brincar para casa do primo (um deles, tenho uma catrefada, só a contar os direitos). A casa dele era grande, com muitas divisões vazias e no andar de cima estávamos praticamente sozinhos, podíamos fazer barulho à vontade (mas não fazíamos porque o silêncio era demais para quebrar).

Sei o que gostava mais e o que gostava menos destas visitas. Mais: era o sítio onde podia jogar consolas. Ele tinha uma Dreamcast e deixava-me jogar Sonic. O máximo que eu consegui alguma vez extorquir aos meus pais foi um GameBoy, pelo que a casa do primo-rapaz tinha logo ali um encanto. Menos: tinha de me descalçar para entrar no quarto. Nessa altura era só o quarto do primo, que tinha alcatifa. Hoje virou moda, em qualquer tipo de chão.

Há quem diga que é má-educação entrar na casa dos outros levando a sujidade da rua. Eu digo que obrigar as visitas a fica em pé-pelado está mais ou menos no mesmo patamar. Afinal os tapetes de entrada foram feitos para alguma coisa. Além disso, ir àquela casa passa a ser como uma ida à natação, mas em vez de te depilares, tens de lavar os pés na hora antes e coser as meias. Pronto, estou a exagerar, por norma as pessoas têm os pés lavados (menos norma do que deveria ser) e calçam meias sem buracos. Mas há quem seja capaz de criar queijo roquefort em menos de meia hora de sapato fechado - depois se as plantas morrerem lá em casa não culpem os convidados. 


Mas, no mínimo dos mínimos, se querem impor esta regra lá em casa, certifiquem-se que têm chinelos para dar aos convidados. Se eu não posso sujar a casa com o meu sapatinho fofo, também não me apetece lavar o chão com as minhas meias claras. Era isto.

 

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21
Out15

Zulmira AKA Deus

Maria das Palavras

Eu sei que devia trincar a língua por dizer isto, que são os transportes públicos que têm que melhorar e os idosos precisam de ter mobilidade na cidade, mas caramba, quem mal se aguenta de pé, também devia saber que não pode tentar a sua sorte na Carris.

 

Old Womas (Imagem Pixabay)

Uma senhora de idade entra no autocarro e dirige-se a um lugar vago. Nisto, o motorista arranca (porque não pode esperar até Novembro) e ela quase vai de boca ao chão. Uma mulher solícita (vamos chamar-lhe Zulmira) que ia a passar ouve os gritos estridentes da velhota ("AGARRE-ME QUE EU VOU PARTIR O BRAÇOOO, AI, AI, AI, AI") segurou-a e ajudou-a a sentar-se no banco, direitinha e bem segura. Não saiu de perto dela enquanto não estava instalada.

A senhora sentou-se e começou num pranto. Ai que já ia partindo o braço outra vez. E que o motorista era um animal. Que nunca ninguém a ia calar. E que foi Deus que a salvou. Foi Deus, foi Deus, chorava ela em lágrimas secas tão fiteiras que eu sentia a fita a dois metros que estava dela. Um grito pela atenção que precisa, juro que percebo, mas quanto mais ela falava e disparava em todas as direções, mais eu perdia a pena. Foi Deus, Deus não me abandona, continuava ela. 

Foi Deus? Ora porra, foi a Zulmira, que eu bem vi.
Só que a senhora, no meio de tanto berro, lágrima de crocodilo e protesto (entretanto já berrava contra os políticos) só se esqueceu de berrar um "obrigada" à Zulmira. Logo uma senhora tão apoquentada com a falta de educação do motorista.

 

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13
Ago14

Cortesia rodoviária que me toca no nervo

Maria das Palavras

Sabem quando o peão vai a entrar na passadeira, o carro pára para o deixar passar e o peão agradece ao condutor? Faz um aceno de mão ou dá um "obrigado" emudecido, apenas movendo os lábios?
Não entendo. Se for dentro do carro, confesso que isso até me irrita. Sei que a boa educação nunca é demais, mas acho que deixar passar o peão não é cortesia, nem se trata de boas maneiras...é mesmo uma questão de cumprir o código da estrada e evitar crimes rodoviários. Não é por favor, tem mesmo de ser. Ou será que o aceno do peão é um "obrigado por não me ter deixado ficar colado ao seu pneu?" ou "obrigado por não ter fingido que não me viu, apesar de eu até estar vestido em tons de bege"?

 

Estrada Versailles - Blog Das Palavras

 

É que lembro-me sempre que se é só por simpatia que o carro pára e é devido ao condutor um "obrigado", então se o carro não parar e houver um atropelamento, basta dizer "desculpe". Tudo dentro das regras da boa educação.

 

Ou então sou eu que não tenho maneiras. Porque não agradeço quando vou na passadeira e o condutor não acelera para cima de mim - acho só normal.

 

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