Lá consegui abrir o conteúdo dos tais CD Rom. Tinha de tudo, minha gente!
Pastas por semestre, por disciplina, com transcrições de aulas, trabalhos e pesquisas, organizadíssimo ao ponto do OCD, com pastas gerais adicionais, com os meus horários, professores e notas por módulo.
Juro que não sei como tinha amigos. Ou então era por isso que os tinha.
De como é penoso ficar em casa com o sol a bater nas pedras da calçada e não poderes sair te faz querer bater com a cabeça numa?
De teres de acordar de madrugada para estar nas aulas a horas indecentes e te esforçares para segurar os olhos com palitos imaginários?
Dos calhamaços que se carregam para levares nos braços a matéria toda e da vontade de acender um bico do fogão e queimar as páginas uma por uma?
Da vontade que de repente nos dá de limpar a casa, organizar os copos por altura e ver um documentário sobre o ciclo de vida da traça dos tapetes marroquinos?
De nos desconcentrarmos com as coisas mais básicas: como o som da nossa respiração ou de uma mosca que voa na divisão ao lado?
Não deixem de partilhar também as vossas (piores) recordações dos tempos de estudante - ou vivências presentes, se for o caso.
Li este artigo no Observador que começa por falar em homens que preferem sexo a comida, mas depois desvia a conversa para vermes. Ou seja, eles testaram vermes para tirar conclusões sobre homens e isso diz-me que o estudo foi feito por uma mulher de coração desfeito.
A minha curiosidade vai mais longe: quero tirar conclusões diretamente da amostra de homens e mulheres que por aqui passam.
Portanto, preferiam:
a) Fonte de (bom) sexo garantida até ao fim da vida, mas nunca mais ingeriam comida (a sobrevivência era assegurada através comprimidos, por exemplo)
b) Comer tudo do bom e do melhor até ao fim da vida sem risco de engordar ou prejudicar a vossa saúde, mas fornicação never more.
O DailyMail diz que os homens que durmam com pelo menos 20 mulheres vêem o risco de cancro da próstata reduzido em cerca de 30% . Quanto mais ramboiada melhor. E eu já estou mesmo a ver as consequências deste estudo nas casas de família.
- Querida, encolhi o risco de cancro da próstata!
- Que bom, querido! Começaste finalmente a dar uso à tua inscrição no ginásio?
- Não...não foi isso.
- Então, decidiste mudar a tua dieta e começar a comer coisas mais saudáveis?
- Também não.
- Então que foi que fizeste assim de tão bom hoje?
- Li esta notícia que diz que homens com pelo menos 20 parceiras diminuem drasticamente o risco de cancro da próstata. E fui logo lá abaixo à Teresinha das fotocópias. Nas escadas encontrei a secretária do Fonseca e também a aviei. Depois passei o resto do dia a marcar reuniões com as melhores fornecedoras, para os próximos dias. Com melhores pacotes...de oferta, se é que me entendes. Tudo a bem da saúde.
(Ferro de engomar na cabeça. Morte por lesão craniana previne cancro da próstata. Fim de cena.)
Não sei quem terá feito este estudo, mas claramente não está a considerar as decisões de compra ao ir supermercado com fome. Tomo todas as piores decisões quando o faço (e por piores decisões entenda-se: encher o carrinho de chocolates, bolachas, gelados, batatas fritas, queijos e carnes frias variadas).
Sou capaz de comprar salmão fumado com beringela (blargh) se for ao supermercado de estômago vazio. Tudo me apetece, sem exceção. Pareço o monstro das bolachas depois de recuperar de uma intoxicação alimentar.
Nessas horas passo ao supermercado só para ir buscar o desodorizante que tinha acabado de manhã e saio de lá com as compras alimentares do mês (que me sinto capaz de aniquilar em meia hora).
É só o meu estômago que é tão bom conselheiro como a cabeleireira da Maria José Valério? Uma vergonha para a espécie estomacal, de sua génese tão iluminada?