[A foto tirei-a na linha de comboio desativada da minha nova terra. Não podia ser mais cliché, nem menos prevista. Se naquela meia-noite em que nunca como passas me tivessem dito que poucas semanas depois estaria a morar a 300 quilómetros dali rir-me-ia como se tivesse bebido demasiado champanhe. E afinal era eu que – uma e outra vez – não sabia nada da vida. E andava a fazer e a assumir planos como se pudesse saber. A única coisa que podemos definir quanto ao nosso caminho é como vamos querer pisar as mudanças que surjam nele. Porque dizer qual será está fora do nosso alcance.]
Olh'áli eu com a minha orelha gigante a tirar uma fotografia! Pois é, fiz um workshop de fotografia noturna através da Odisseias com o formador Adalberto Santos, da escola Luz do Deserto. A ideia era aprender a tirar fotos com pouca luz porque, se de dia me safo já com umas funções manuais, à noite ou recorria ao automático ou ficava sempre com as fotos a) desfocadas b) escuras c) cheias de grão ou d) todas as anteriores e mais alguns defeitos. Não quero profissionalizar-me, nem sequer ser fotógrafa amadora, só quero mesmo divertir-me e publicar umas fotos no blog - e isso envolve não ficar frustrada por tirar más fotos à noite.
Cheguei lá e fiquei muito intimidada. O voucher diz que se pode fazer o workshop até com uma câmara de telemóvel, o que não deixa de ser verdade, mas convém mesmo ter uma máquina e - atenção - tripé. Pelo menos para a fotografia noturna em que se tem de fazer exposições longas é essencial não mover a câmara nenhum milímetro e eu, mesmo sem Parkinson, não sou capaz. Dizia eu que cheguei e fiquei intimidada. Todos tinham o que me pareciam maquinões (com várias lentes e a minha só tem uma mesmo) e só uma pessoa do grupo não tinha tripé (eu tinha o do Moço, para partilharmos). Olhei para a minha máquina mixuruca e pensei: devo escondê-la e dizer que me esqueci dela? Afinal não havia nada a temer. Não era um workshop pretensioso. O formador até elogiou a minha maquininha porque tinha não-sei-quê-de-não-sei-quantos e disse que não era preciso gastar muito dinheiro (vulgo, comprar maquinões) para tirar grandes fotos, porque uma grande parte da fotografia é interpretação.
Saí com dicas muito preciosas, daquelas que não vêm nos manuais. Em teoria eu sabia o que precisava fazer para tirar fotos à noite: abertura de diafragma com valor maior (abrir os olhos) e velocidade de obturação menor (mais tempo a captar), mas na prática faltava-me aplicar bem essas regras. A causa, fiquei a saber, é que devia começar por fixar o ISO (num valor baixo) e depois a partir daí ajustar os restantes valores. Também não estava a dar a devida importância ao balanço de brancos e ao tipo e quantidade de luz a que estava a expor a lente. E se isto for tudo chinês para vós (mas gostam de fotografia) sugiro que comecem por este workshop para terem as noções básicas da coisa. Muitas máquinas permitem mexer nestas definições, no modo manual, e vocês vão ser pessoas menos frustradas com algumas fotos que tiram nas instâncias mais banais se elas ficarem mais bonitinhas. Vão a uma festa de aniversário com toda a gente a tirar fotos e experimentem ser os únicos que conseguem uma decente. Pumbas. Grande sensação. Que o Moço costuma ter, não eu.
Quando fui fazer o workshop a ideia era deixar de usar o modo automático da máquina também nas fotos à noite, mas mais por brio, porque eu estava convencidíssima, que o modo automático faria tão bem como uma boa foto no manual. Errado. Sua burra. Vejam, para finalizar - que o discurso que já vai longo, - as duas fotos seguintes e espantem-se (ou não, que a burra era eu). A primeira tirada no modo automático. A segunda (quase bem) tirada (mas ainda podia fazer melhor) no modo manual. Uau, que diferença na cor (e em tudo), certo?
Para vocês ou para oferecerem a experiência a algum amigo que goste de fotografia procurem os vários vouchers Odisseias de workshops de fotografia aqui. Este foi o que eu fiz. Prometo que vale a pena. Pelo menos obriga-vos a focarem-se na máquina que têm e nas suas funcionalidades e treina-vos para a aproveitarem melhor.
[Foi no último dia de Gerês que visitámos a Ponte de Misarela. As lendas desta ponte têm pequenas variações: todas envolvem a mão do Diabo e a mão de Deus, que resultaram na ponte torcida. Diz-se que se uma mulher que tenha dificuldade em ter filhos passar a noite debaixo da ponte a sua gravidez será abençoada. E que deve tomar por padrinho da criança a primeira pessoa que passar na ponte e batizá-la com o nome de Senhorinha ou Gervásio. Assim diz também a música de Sebastião Antunes que tem o nome da ponte. Mas sabem a verdade? Independemente das lendas, independentemente dos turistas que percorrem o caminho para sentir a mística da ponte, as vacas ainda têm de ser passeadas.]
[Não há maior cliché do que que publicar fotos de pôr do sol no verão. Por isso é que não vos martirizo com uma série de quatro que tirei ao fim da tarde na Costa, com intervalos de dez minutos e todas com cores diferentes a pintar o céu. Mas esta, caramba, aposto que aquele casal ia adorar ter esta. Amor de verão sem filtros.]
[Este fim-de-semana esteve à beira de ser perfeito. Costumo encher a boca para dizer que não gosto de praia, mas meteu praia. Praia de areia chata (sempre) e água fria, mas sem vento, sem enchentes, sem horas a mais. E além da praia e de termos estado os dois num pedaço de paraíso inesperado, houve amigos, houve a família dos dois (além da família que somos os dois) e houve sobretudo oportunidade para esconder as ninharias do dia-a-dia por baixo de um chapéu de sol e esquecê-las por um bocadinho. As preocupações todas, gigantes que sejam, não deixam de ser ninharias ao pé dos bons momentos. Não podemos deixar que sejam.]
[Não tenho minimamente aspirações a fotógrafa. Tenho umas noções e uma máquina mais-ou-menos, mas na maior parte dos dias dá-me a preguiça e uso só o modo manual. O Moço, que tira fotos melhor que eu, numa máquina mais séria que a minha, e mesmo assim não se atreve a achar-se fotógrafo - como muitos que lá por comprarem uma lente xpto já acham que podem fazer exposições - gosta de captar imagens e espevita-me para fazer o mesmo. Às vezes partilho no Instagram, outras vezes não partilho. Mas apetece-me. Não é para pescar elogios - já expliquei que não sou fotógrafa nem tenho pretensões disso. E este blog até é sobre palavras, que é o que eu acho que manejo melhor, mesmo que seja só assim-assim. Só que algumas destas fotos que me falam ao coração vão-se perder um dia destes, num disco externo qualquer e não vou olhar para elas - num álbum seria o mesmo. Aqui, talvez eu volte a olhar para elas. Ou pelo menos, tu também olhaste. Esta rubrica não tem de vos apetecer. Mas a mim apetece-me. A foto da semana pode ser da semana por eu a eleger e não porque temporalmente o foi. A foto da semana pode não ter regularidade semanal. A foto da semana pode até ser do Moço quando eu quiser e ele me deixar. A foto da semana é para mim e por mim, mas convosco.]
Do fim-de-semana ficam os risos, os banhos do sol, os biscoitos de manteiga e o bolo feito com limões apanhados da árvore, as conversas a dois, a cinco, a doze, a bolada na minha cabeça, os pés de molho na piscina, o sorvete de fruta acabado de fazer, a passagem sofrida da seleção com suspiros conjuntos, o arroz perfeito (sem louro), a espreguiçadeira que balouça, as leituras interrompidas pelo grasnar dos patinhos feios e a foto do cisne que posou para mim entre a vegetação.
A não ser que sejam muito desatentos já sabem que vai haver casório de uma das melhores na arte de moldar o barro das palavras, aqui no bairro do Sapo. E a não ser que sejam ainda mais desatentos (ao meu blog, em particular) sabem que não posso estar a falar de mim, até porque tenho certos traumas e aversões ao casamento na primeira pessoa (o ato, não o estado).
A blogger em causa, é também uma pelintra assumida. Assim sendo, e querendo partilhar com a blogosfera o seu dia especial - que por agora mantemos no segredo dos deuses qual será - o que faz? Convida o Pau Storch? A After Click? Alguém conceituado na blogosfera para fazer as fotos do casamento para os seus diários virtuais? O tanas. Convida aqui a Maria. Ninguém me tira a ideia que só fui convidada para o casamento, - não porque coaduno, com ela e com a outra, em largas horas de conversa facilmente censurável pelo público mais cristão, numa janela virtual - mas para lhe fazer a foto-reportagem para o Instagram. Fui bem enganada, foi o que foi. Eu nem sou das imagens, sou das palavras.
Seja como for, fiquem atentos. No dia do casamento estarei lá, no instagram da emedjay ou éme-jota (como preferirem) a fazer a foto-reportagem com direito a comentário. Sigam-no já para não perderem esse memorável Instagramajacking.
As primeiras imagens que vos mostrei do LX Factory foram captadas cá fora (sim, à chuva). Estas agora mostram um pouco do espaço interior dos espaços onde entrei - que não foram muitos, confesso (tenho mesmo de voltar). Apaixonem-se, como eu, pela livraria gigante (a Ler Devagar). No primeiro andar há uma espécie de casa das máquinas da antiga fábrica que lá operava, que tem um auto-intitulado dessert place, que é o O Bolo da Marta. Não provei (já disse que tenho de voltar?), mas dei bem alimento aos olhos. E fui um custo não trazer um dos blocos de notas da livraria, nomeadamente aquele cujas folhas são de toalha de mesa! Quem é que nunca rabiscou uma toalha de mesa num restaurante? O segundo espaço é o do Café na Fábrica, que me lembra muito a primeira casa da minha avó. Adorável. E tudo uma delícia. Viva a arte do napperon!