O Flagelo da Foto de Perfil
Note-se que flagelo não foi que as pessoas pintassem as cores da bandeira em cima das suas carinhas larocas, mas o facto de o fazerem sendo tão pouco "charlies" que não admitiram que eu pudesse desabafar no Facebook que mudar a foto de perfil não traria paz ao mundo. Incoerências. Todo um sururu porque eu estava a ser implicativa, provocativa e parva*. Deus me livre achar que pintar a foto é um exercício inútil ou expressar isso. Troquem-se os cravos vermelhos pelas balas que deviam estar nas armas e fuzile-se a Maria, que acha que pode ser livre de dizer o que quiser (muito menos verdades: mudar a foto de perfil não faz nada). Não fui vil, nem exagerada, nem ofensiva, disse só que paz dali não vinha.
Agora assentemos ideias. Eu percebo bem a ideia por trás da foto de perfil viral. Não sabemos como ajudar, assola-nos um sentimento de impotência e de alguma forma queremos sentir-nos bem conosco próprios, fazendo parte de um movimento que passa uma mensagem. E sim, é por nós. Nenhum terrorista se comove, nenhum familiar de uma vítima se consola. É o nosso tapinha nas costas. Percebo, juro. Não o faço em fotos de perfil, mas faço-o de outras maneiras. O que nos move é o compreensível sentimento de medo. Restam-nos ações como mudar a foto de perfil ou escrever sobre isso. E esperar que o mundo se torne um mundo melhor, começando à nossa escala. E, independentemente de qualquer teoria: mal não faz. Como mal não fez que me dissessem - de forma educada - que não gostaram da minha reflexão.
Acho, por exemplo, mais importante fazê-lo (e não faço na mesma, porque posso escolher) quando se tratam de fenómenos para os quais temos de chamar a atenção. Nunca ninguém ouviu falar do cancro da cutícula da unha do mindinho? Mudemos todos a foto de perfil para as cutículas de unha para tornamos mais pessoas conscientes desta desgraça.
No caso das guerras e ataques terroristas, de mudarmos todos a foto de perfil de acordo com a tragédia mais fresquinha (nos países da zona nobre, entenda-se), além de não aderir, faz-me um bocadinho de confusão: admito. É que mesmo com diretos 24/7 nós sabemos tão pouco sobre o que se passa no mundo. Sabemos tão pouco sobre o que é correto ou não. Pronto, explodir inocentes podemos dizer à partida que é mau. Mas dois dias depois é a França a bombardear. Já não é terrorismo? É justiça? Ou é vingança? O argumento "foi ele que começou!" que não permitimos ao irmão mais velho que bate no mais novo, pode ser usado por países? Morreram culpados ou inocentes? E que outras movimentações geo-políticas estão por trás disto? Que outras mortes em cadeia (e onde) mereciam esta nossa atenção e não a têm, porque só sabemos o que nos querem deixar saber? O que estamos de facto a apoiar quando nos pintamos de França? Não tenho respostas. Sei quase nada. E a ignorância é tão perigosa, que me recuso a agir em cima dela. Mas isso resulta em inércia. Depois no sentimento de impotência que nos faz mudar todos as fotos de perfil. Um ciclo vicioso. E nenhuma solução clara.
O que me vejo a defender é que sabemos de tão pouco do que realmente se passa no mundo que só há uma cor verdadeiramente segura para pintarmos a cara: o branco da paz**. Tendo consciência disso, cada um é livre de dizer ou fazer o que quer. Só não se aleijem.
E eu, que não rezo, dou por mim a pedir que alguém que saiba mais que eu, faça melhor que eu.
#prayforparis
#prayforpeace
#prayforprofilepictures
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*sou essas todas em alturas alternadas em vários momentos do dia.
**não me venham acusar de racismo, sabem bem o que estou a dizer, é branco da pomba, não é a pseudo cor-da-pele, que essa é toda uma caixa de lápis de cor..