As que se põem a jeito.
Hoje, como na maior parte dias em que estou sozinha com tarefas caseiras para despachar, foi dia de me fazer acompanhar com o tablet de um lado para o outro, enquanto arrumo roupa, ou cozinho. Vou ouvindo as peripécias de diversas Youtubers, meio atenta, meio distraída. E, hoje em particular, chamou-me a atenção que várias delas mencionaram os comentários insultuosos do público e a expressão que elas tantas vezes ouvem: a partir do momento em que se expõem, põem-se a jeito.
Falam para muita gente, partilham parte da sua vida e portanto, sim, é natural que mais gente forme opiniões, ou mesmo comente, o que se passa. Mas faltar ao respeito a alguém é um ato igual quer sejamos a única pessoa a ver ou sejamos um de 50 mil.
Vamos a exemplos práticos.
Digamos que conto a uma amiga minha que já comprei todas as prendas de Natal. Expus-me diante dela. Ela odeia o consumismo e desperdício gerado à volta de datas como o Natal. Ela vai julgar-me. Vai (ou não) dar-me a sua opinião. Terá de o fazer de forma educada. Não é esperado ou aceitável que me chame nomes ou ameace.
Digamos que o digo no Youtube num canal com meio milhão de subscritores. Expus-me diante de todos eles. Pelo menos cem mil odeiam o consumismo e o desperdício gerado à volta de datas como o Natal. Eles vão julgar-me. Vão (ou não) dar-me a sua opinião. Terão de o fazer de forma educada. Não é esperado ou aceitável que me chamem nomes ou ameacem.
Se disser algo a uma pessoa ou um milhão, o julgamento e as opiniões serão multiplicados pelo mesmo número, inevitavelmente. Mas o respeito devido está na mesma expressão numérica e também deve ser multiplicado.
Alguém que fala para uma audiência maior tem uma maior responsabilidade e deve usar a sua voz da melhor forma. Mas não tem, sob nenhuma circunstância, uma autorização emitida para merecer menos civismo do que aquele de que fazemos uso diariamente, nas nossas interações pessoais e individuais. Nem para ouvir que estão gordas, nem para ouvir que o cabelo está horrível, nem para condenar nenhuma das suas opções. Se ajudar, façam um exercício: pensem que a pessoa pública é a vossa vizinha do lado e se encontram com ela na escada: dir-lhe-iam diretamente o que estão prestes a escrever? Não?! Então apaguem e sigam com o vosso dia. Prometo que prosseguirem, nem chega a ser assim tão terapêutico para as vossas próprias frustrações.