Acredito que o riso é terapêutico e que não há barreiras no humor. Que mesmo aquelas piadas que achamos que são demasiado ofensivas são apenas porque nos tocam diretamente em situações que gostaríamos de esquecer, ou quando achamos que era escusado porque não tem piada, foi só porque não nos tocou - e cada um tem a sua cócega particular. No show do Ricky Gervais que entrou na Netflix recentemente (Humanity) ele faz um raciocínio que me parece fresco e certo: ofender-se com um humorista que goza com uma situação e querer impedi-lo de o fazer só porque não queremos consumir essa piada, é como ver uma loja de jardinagem (acho que o exemplo é outro) e ofendermo-nos com o dono porque não queremos semear flores e pedir à ASAE que lhe feche a loja. Podemos simplesmente não comprar. Podemos simplesmente não seguir, não ler, não ouvir. Eu compro, mesmo quando as situações me tocam, porque acredito que essas piadas lhes retiram gravidade e ajudam a encará-las. E hoje vou consumir à bruta. E rir-me muito.
Pode brincar-se com tudo e ninguém é obrigado a prestar atenção a essas tolices. Por exemplo, eu não me interesso por rendas de bilros, por isso se alguém conversar sobre isso eu viajo para o espaço psicológico intitulado terra-chama-planeta-Maria. Da mesma forma, não subscrevo páginas de rendas de bilros, muito menos as comento. Por isso quem odeia humor negro e tem espamos com anedotas como "Não se goza com a pedofilia? Só se a criança for mesmo muito má na cama", pode sempre não ler o Guilherme (Por falar noutra coisa) que fez esta piada, em vez de o ameaçar com porrada. Quem não acha sequer que o que o Sinel de Cordes diz é digno sequer de ser chamado piada, tem direito à sua opinião e a não ler nada do que ele escreve (ele sempre fez piadas sobre violação, não foi só depois da lei dos piropos).
[a série #humorsemfronteiras tem o alto patrocínio da minha capacidade de abstração e riso]
Pode brincar-se com tudo, embora não o possamos fazer ao pé de toda a gente.
Não tem a ver com a proximidade do problema até: há paraplégicos que são os primeiros a espalhar piadas sobre o problema que têm, cegos que dizem "estou a ver, estou", familiares de pessoas que o cancro levou (como eu) que são os primeiros a contar anedotas sobre o assunto. Mas a máxima de alguém que gosta de contar anedotas do género "O que é pior do que um bebé num caixote do lixo? Um bebé em dez caixotes do lixo.", deve ser "conhece o teu publico".
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Pode brincar-se com tudo, embora às vezes ainda não seja o momento adequado. O típico too soon. Por exemplo, posso contar a anedota "Mãe, posso brincar com o avô? Podes, mas depois arruma os ossos na caixa" ou "Mãe, não gosto do avô! Está bem, come só as batatas", mas não o posso fazer na semana do funeral do meu avô.
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