Já nos tínhamos despedido e já levavamos aí uns 100 metros de distância na rua quando ouço "Tiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaa". Viro-me para trás e vejo o meu sobrinho de 4 anos a correr rua abaixo para me dar mais um abraço. Cena de filme, daquelas em que se usa slow motion para puxar à lágrima.
Ouve-se o Moço, que é efetivamente o irmão do pai da criança:
O anónimo é um ser que odeia por profissão. Muitas vezes é apenas o seu part-time, tendo como ocupação principal um emprego nove-às-seis que o frustra - e que, se Deus quiser, inclui acesso à Internet para fazer uma perninha naquele que é o seu verdadeiro sonho profissional: odiar pessoas digitalmente.
O anónimo é um ser ternurento ao vivo, que quase sempre esconde com sucesso o seu esgar de nojo e tapa com base o verde-inveja. Mas dêem-lhe o conforto de um teclado e um ecrã e o anónimo revela a sua essência, deixando fluir os instintos primários.
O anónimo alimenta-se em matilha. Estas matilhas podem ser encontradas abaixo de notícias no Diário Digital ou em posts de bloggers. Quanto mais feliz for a notícia ou mais bem sucedido for o blogger, maior será, em proporção, a matilha destes seres.
O anónimo é muitas vezes um bicho incompreendido, que se consome na sua própria raiva e espelha publicamente as suas frustrações. Nem todos os anónimos o são no sentido literal. Há os que dão o nome, embora só digitalmente assuma o seu carácter maldoso, preferencialmente, contra vítimas que ele não conhece (mas almeja igualar).
O anónimo é vulgarmente da família das araras, dos elefantes ou dos bicho-preguiça.