[Foi no último dia de Gerês que visitámos a Ponte de Misarela. As lendas desta ponte têm pequenas variações: todas envolvem a mão do Diabo e a mão de Deus, que resultaram na ponte torcida. Diz-se que se uma mulher que tenha dificuldade em ter filhos passar a noite debaixo da ponte a sua gravidez será abençoada. E que deve tomar por padrinho da criança a primeira pessoa que passar na ponte e batizá-la com o nome de Senhorinha ou Gervásio. Assim diz também a música de Sebastião Antunes que tem o nome da ponte. Mas sabem a verdade? Independemente das lendas, independentemente dos turistas que percorrem o caminho para sentir a mística da ponte, as vacas ainda têm de ser passeadas.]
O Martinho que era um soldado romano, atravessava os Alpes, num Outono gélido, quando se atravessa à frente dele um homem pobre, com roupas velhas e rotas. O bom do Martinho pega na sua capa, corta-a ao meio e dá ao pobre. Nesse momento Deus recompensa Martinho e faz brilhar o Sol - e assim acontece todos os anos por dois ou três dias: é o Verão de São Martinho.
Ficam-me algumas perguntas:
1. Desde logo: onde é que estão as castanhas?
2. Se Deus podia fazer logo calor para o pobre estar bem, porque é que esperou para o Martinho lhe dar a capa? Se eu fosse o pobre dizia: "Agora?! Agora já tenho agasalho, obrigadinha.". Ao menos mandasse para baixo uns sapatos.
3. Porque é que o Martinho, se estava bem agasalhado, não lhe deu a capa toda em vez de a dividir? Sacrifício, mas não muito, né Martinho?
4. Se ele só deu meia capa e agora é santo, que faz isso de mim que dei um sacão de roupa para caridade há umas semanas? Tudo peças inteiras, nada de metades, nem sequer buraquinhos de traça.
Reza a lenda que a Rainha Santa Isabel levava certa manhã pão para os pobres. Quando D.Dinis passou por ela e lhe perguntou o que escondia, mentiu que eram rosas. E rosas eram, quando abriu o regaço para mostrar ao seu soberano.
Este blog não dá de comer a ninguém, mas são palavras que trago no regaço. E sempre que alguém escreve sobre o que eu escrevo, com simpatia; sempre que alguém diz emocionar-se com uma frase que seja; sempre que alguém me agradece uma gargalhada, dá-me um trejeito de Rainha Isabel, e tão presunçosa quanto humilde penso: "são palavras senhores, são (só) palavras".
Muito obrigada por me lerem e me emprestarem esta nobre ilusão de que, à distância, posso tocar-vos.