A caixa de vidro a que chamamos Liberdade.
Passo este 25 de Abril em reflexão. Até que ponto podemos chamar Liberdade à liberdade que temos? Bem sei que já não estamos fechados naquela caixa de madeira escura, fechada com pregos, onde só vemos o que nos fazem chegar através de um pequeno buraquinho. Que é incomparável com o tempo antes dos cravos vermelhos. Mas não trocámos essa caixa ainda por uma caixa de vidro? De onde conseguimos ver tudo, mas como também nos vêem, somos forçados a fingir as normas e os padrões? Não estamos na era em que há liberdade, mas esperam que a devotemos a crescer (de forma a não ficarmos nem muito magros, nem muito gordos), tirar um curso (de preferência um daqueles que dá boa reputação), casar (de preferência um homem com uma mulher), ter filhos (de preferência um casalinho), almoçar aos Domingos em casa dos pais e dos sogros (alternadamente), baixar a cabeça no trabalho para agradecermos um ordenado e comprarmos um iPhone com uma boa câmara e conexão à Internet de onde podemos partilhar só os sorrisos da nossa vida e nunca as birras e indisposições? Sempre as rosas que nos dão no aniversário e nunca a salsa que deixamos murchar?
E sim, estamos na era em que podemos encomendar um martelo do Amazon com emcomenda Express e partir a filha da mãe da caixa para fazermos o que bem entendermos. Só se tivermos a casca grossa que nos permite fazer ouvidos moucos a todos os que vão olhar e apontar: ai, a filha da Dona Lurdes saiu da caixa, ouviste dizer? É a vergonha dos pais.
Vamos partir a caixa. Ainda há muito trabalho a fazer.
(Sem encostar na caixa dos outros, que liberdade também é isso.)