O fim-de-semana não foi só alegrias
A minha mãe disse-me que eu devia cortar o cabelo "à Cristina Ferreira".
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A minha mãe disse-me que eu devia cortar o cabelo "à Cristina Ferreira".
Eu tenho um equilíbrio delicado entre a roupa passada e por passar. A minha mãe veio cá e estragou tudo. Passou-me um monte de roupa a ferro. Esvaziou-me a percentagem de roupa que pertence ao cesto de amarrotados. Agora não tenho onde a guardar toda.
#mulherdeumsóroupeiro
A minha mãe passou uns dias em Espinho:
Mãe: Esta manhã fiz como disseste e fui tomar o pequeno-almoço ao Café da Avó.
Eu: Mãe...não estarás a falar do Pão de...
Mãe: Ai, tens razão, ao Pão de Ló.
Eu: Pão de Dó...
Eu cheguei adiantada à estação e ela já lá estava, para um comboio no sentido contrário que já estava atrasado (muito). E o comboio que não passava. E ela ao telefone com a mãe, a jurar que era o comboio, não ela, quem estava a faltar à hora marcada. E a mãe a não acreditar. E ela de voz embargada, a perguntar à mãe porque não confiava nela.
E eu a pensar como eu ou a miha mãe (ou as duas) somos muito sortudas. Nunca ela duvidaria se eu dissesse que o comboio se atrasou. E nunca precisou de duvidar.
Sabem aquela história de não se terem filhos favoritos? Esqueçam.
Falava consternadamente com a minha irmã acerca do flagelo que se abateu sobre a nossa família (a ler aqui se não sabem) quando ela me diz que nem sequer aceita o pedido de amizade da minha mãe enquanto ela não mudar a foto de perfil.
Maria: Aceitar o pedido? Mas a mãe não me pediu em amizade, eu é que vi a conta nas sugestões do Facebook...
Irmã: Ahahah! A mãe não te pediu em amizade!?
Fui rejeitada pelo que rejeitava. Estou no fundo da cadeia social. E no último lugar pela luta do amor da minha mãe.
Aquele dia em que, do nada, a tua mãe aparece nos amigos sugeridos no Facebook. A minha mãe no Facebook?! Quem é que deixou que isto acontecesse? Quem é que no mundo achou que a minha sogra não era o suficiente para nos embaraçar?
De apontar que o primeiro comentário é da minha tia e versa assim: "toda boa!".
A minha mãe não fez um curso para o parto (convenhamos, se fosse para ter formação teria de ser antes uma de planeamento familiar, visto que eu fui feita na noite de núpcias). Não me teve num hospital privado onde o meu pai pudesse ficar (desconfio que ele não queria), nem sequer visitou antes a ala da maternidade, foi assim ao Deus-dará, feita maluca. Ferveu os biberões no tacho (e hoje em dia nem os esterilizadores de microondas servem, têm de ser elétricos). Passava-me a sopa com varinha mágica, a bestinha (aposto que ficava cheia de grumos). Nunca me pôs em cima de um muda-fraldas, o que torna para mim um mistério saber se andava sempre toda borrada - será que nem fraldas tinha? Ou melhor, é possível não ter muda-fraldas e as crianças fazerem cocó na mesma? Fiquei escandalizada quando me disse que nunca me comprou uma forra de ovo que supostamente apoia a cabeça e protege mais do frio. Ainda nem estava preparada para a bomba: filha, nunca tiveste isso do ovo. O meu carrinho não era trio, era só normal, não tinha manhas de transformer. Aqui culpo o meu pai, pelo triste veículo. Secretamente, também o odeio por não ter trocado de carro dele porque teve uma filha. Era mesmo a 4L e pronto, nada de carrinhas com 9 lugares. E sabem quem me tirava as fotografias? O MEU PAI. Foram incapazes de contratar alguém para me registar momentos num ambiente normal para uma criança (como um ninho de palha ou um ovo da páscoa).
Ter um filho não exige a disponibilidade monetária ou a preparação exímia que hoje em dia todos nos vendem como certa. Não precisamos comprar tudo o que está na Chicco (e as outras mães têm) e, sobretudo, não precisamos ser perfeitas ou saber e sentir o que está pré-definido por terceiros. O que mudou não foi a necessidade do bebé. Foi - em muitos casos - a pressão da sociedade. Ninguém pode ter um bebé sem um quartinho montado em cores pastel. Ninguém pode ter um bebé sem sentir que nasceu para ser mãe. Mentira.
Estou mais que ciente que vou comprar e fazer muita mariquice desnecessária um dia que vá ter filhos (sobretudo as mariquices que poupam tempo e dores, que nos dão segurança real ou imaginária), mas quis escrever este texto para servir de lembrete: Maria, não é preciso. Também a "lei" manda ter cortinas em casa e eu nunca as tive, nem fui menos feliz por isso.
A minha mãe não teve metade das coisas que hoje são "essenciais" e sabe-se lá como, eu sobrevivi. Pensando bem, não a vou processar. Vou-lhe agradecer.
Conto-vos como me contaram.
A sair de um parque de estacionamento altamente inclinado e com paragens, o meu pai vai a forçar a embraiagem que naturalmente começa a cheirar um pouco a fumo. Ia ele, a minha mãe e a minha irmã no meu velho carrito, que já puxa menos que uma carroça de bois. Assim que a minha mãe vê um pouco de fumo, o que faz?
Foge. Sai do carro a meio da rampa do parque de estacionamento e começa a fugir atirando à minha irmã um "não vens?" a sumir-se.
Ora o meu pai e irmã sabem que a situação não é assim tão grave, embora incómoda. Lá saem finalmente do parque e alcançam a minha mãe, que segue em frente (como os malucos), encostando o carro ao pé dela.
- Entra!
- Nem pensem! Isso ainda cheira a fumo!
Então ainda andou mais uns 500 metros a pé, o carro a seguir devagarinho atrás como o carro-vassoura numa peregrinação a Fátima, até se sentir segura para voltar a entrar e seguirem todos viagem.
Quando me contam isto, entre muitos risos, uns dias mas tarde, a minha irmã diz:
- Já viste? Bela mãe! Foge do carro e deixa a filha ali, dentro de um carro que ela acha que ia explodir.
E a minha mãe, a única a manter-se séria, a recordar o pânico que sentiu nessa situação:
- Eu disse-te para vires! Não tens perninhas?!
Vamos juntar a isto àquele episódio em que veio um cão gigante (ela tem pavor de cães com tamanho acima de um garrafão de 5lt) a correr na direção dela e da minha avó e ela põe a minha avó à frente.
E ao outro em que ela ia a passear o nosso cão pequenito e vem um gato gordo a querer atacá-lo (também tem pavor de gatos) e ela se fecha no campo de futebol e deixa o cão à mercê das garras do outro bicho.
De facto as mães têm um instinto protetor bem apurado. A minha sei que tem. Para ela própria!
(Todas as pessoas têm direito a descanso, menos as mães. Para cada tarefa, profissão ou encargo há direito a uma folga, menos para as mães. Se alguma mãe demonstrar a mínima fadiga de ser mãe, haverá logo uma besta, ignorante de limpar baba e de parir, que se oferecerá para a pôr em causa. Não é mãe, não sabe ser mãe, não foi feita para ser mãe, dirá. Mas, se todas as pessoas têm direiro a descanso, será que as mães não são pessoas? A culpa é nossa. Sim, a culpa é das mães. Deixámos que fossem os filhos a definir-nos.)
José Luís Peixoto, in Em teu ventre
O filho (já adolescente) de uma amiga minha esteve doente uma semana: uma gripe salpicada com infeção na garganta, um antibiótico que lhe deu a volta à tripa, não aguentava nada no estômago.
A minha amiga é que perdeu 5 quilos durante essa semana.
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