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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

27
Ago15

Como entrar na água em 6 passos: Maria Style

Maria das Palavras

A época balnear ainda não acabou e sei que os milhões de pessoas que me seguem (ok, as cinco pessoas que me seguem) estão ansiosos para saber a forma correta de se entrar num mar frio (até porque eu sou da zona centro e levo uma vida a praticar). Portanto, para quem não tem a sorte de se banhar nas praias das Caraíbas, aqui fica um guia muito próprio.

 

Pessoas na Praia - Maria das Palavras (PIxabay image)

 

Imaginem que chegam à praia cedinho, o Sol já se apresentou, os seus amigos querem ir à água e uma pessoa também alinha, mas tem alguma dificuldade em entrar de rajada. Siga estes 6 passos para entrar na água - Maria style: 

  1. A contemplação. Contemple o mar demoradamente enquanto questiona a sua capacidade de entrar na água gelada (leia-se: abaixo de 30º). Nesta fase é ocasional que as ondas tentem aproximar a água de nós e é essencial dar saltinhos ridículos para trás para não chegar a sentir a verdadeira temperatura da água, nem numa ponta do polegar. Leve todo o tempo que precisar. Tome atenção à sua envolvente, evitando crianças-chapinhadoras.
  2. O impacto. Molhe os pés e deixe-os de molho até que deixem de lhe doer os ossos (sabe o que é isto se se banha da Nazaré para cima). 
  3. A Habituação. Avance lentamente até a água fria alcançar a primeira zona de perigo situada entre a bacia e o umbigo. Lembre-se: o mundo será um lugar melhor assim que a sua cintura se ajustar à vida debaixo do mar. Nesta fase verá várias pessoas a chegar e mergulhar de rajada, salpicando-a instantâneamente. Não tema e aceite os salpicos como parte do processo de facilitação e entrada.
  4. O avanço. Dê passos pequenos enquanto se vai pondo em bicos de pés (adiando estupidamente o impacto da água em mais meio centímetro de pele) e suba os braços, dobrados pelos cotovelos acima do nível dos ombros e de mãos caídas, ao melhor estilo galinha-poedeira, avançado no mar. Não se esqueça de fazer cara feia. Quanto mais feia, mais o frio passa. Impropérios susurrados podem ajudar também. 
  5. O encosto final. Neste ponto já molhou as mãozinhas mas continua com os braços todos levantados em cima da linha da água e não desfez os bicos de pés. Respire fundo, tome balanço, limpe a sua mente e deixe que a zona difícil nº2 seja impactada pela água: a combinação ombro-sovaco. Mergulhe a cabeça de uma vez, se for necessário: pode ser que o cérebro congele e deixe de saber o que é o frio.
  6. A benção. Aguarde 2 minutos movendo-se freneticamente debaixo de água até se sentir confortável.

 

Ao concluir os seis passos o mundo tornar-se-á um sítio melhor e pode relaxar e divertir-se à vontade - fez por merecê-lo! É ainda importante manter a calma e resistir ao posterior gozo dos seus amigos, que entretanto foram almoçar, voltaram, jogaram Uno, bronzearam-se, mergulharam dez vezes, acabaram de ler a Anna Karenina e voltaram para casa. O importante é que conseguiu! Agora dê meia volta que já não são horas de estar na praia, vá. 

 

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30
Ago14

Ó mar salgado...

Maria das Palavras

Não foi uma nem duas vezes. Foram muitas. Ouvi o mar, por sugestão da minha cabeça, durante a jornada de trabalho, ali junto à Avenida da Liberdade.

Não era sequer aquela brincadeira de piscina-com-areia a que chamam a Praia do Torel. Era mesmo o som próximo de...obras. Detritos a serem despejados...[Com a poluição que o Homem provoca o mar também está perto de ser isso mesmo, de qualquer forma.]
Mas juro que o som era igualzinho ao do "mar que enrola na areia" e quase sentia o cheiro a sal. Nem um búzio é tão perfeito a emitir este chamamento. 

 

Búzio - cafeportugal.pt

 

E só não me descalçava para trabalhar (exibindo biquíni) por decoro. Sim, porque na hora do sol a pique a entrar-me pela janela, até bronzeado conseguiria.

E repetia em ladaínha a minha adaptação do Mar Português, da Mensagem de Fernando  Pessoa:

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de quem quase não te viu ainda este ano, em Portugal.

 

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