Quem mais?
Já estava tão habituada ao sol de novembro que tomei por garantido que o Inverno este ano não vinha...
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Já estava tão habituada ao sol de novembro que tomei por garantido que o Inverno este ano não vinha...
Do tempo.
Notem que a maior parte das pessoas não se incomoda com os mood swings de São Pedro por acharem pouco normal que nuns dias faça calor, noutros menos, nem sequer por estarem preocupadas com a situação do aquecimento global em particular e o estado do mundo em geral. Elas querem é saber o que vestir no dia seguinte...
27 de Janeiro: almocei na esplanada. Sem casaco.
1. O Dramático
"OH MEU DEUS, que desgraça. Não aguento nem mais um dia com este frioooo. Vou-me fechar no meu casulo, rebolar e morrer. Ou pelo menos entrar em coma enquanto não voltar a primavera.".
O Dramático vê o fim do mundo em cada gota de chuva, rajada de vento ou grau de temperatura abaixo dos vinte.Durante todo o Inverno o seu sonho é poder hibernar. Faz-se acompanhar de citações melancólicas e uma playlist musical depressiva - sobejamente publicadas no Facebook pessoal.
2. O Saudosista
"Ah, no meu tempo isto não era assim." A frase repete-se, mesmo que seja um jovem nascido em 1996 a falar. Lembram-se dos Invernos menos frios e dos Verões menos quentes. No fundo, lembram-se muito daqueles anos (que nunca existiram senão nos seus melhores sonhos) em que a temperatura foi amena de Janeiro a Dezembro. Anos em que não se usaram casacos porque não houve necessidade disso (os mesmos em que nunca chegaram a deitar uma gota de suor com calor. noutras estações). No fundo, anos imaginários.
3. O Surpreendido
O surpreendido ficava invariavelmente chocado com o frio e a chuva no Inverno (tal como fica de boca à banda com as altas temperaturas no Verão). A cada dia de temperatura abaixo dos 10 graus centígrados faz um novo post "inacreditável este frio". A cada chuvada tira uma foto que publica com a descrição "O que é isto, Meu deus?!" ou mais redutor "WTF". Todos os dias acorda e se surpreende porque, continuando a ser Inverno, não há temperaturas amenas e céu a brilhar. Faz lembrar o Tom-10-seconds daquele filme "A minha namorada tem amnésia" que a cada dez segundos se volta a apresentar às mesmas pessoas.
Às vezes sai de casa no meio de um temporal em camisola decotada ou calções, sem casaco ou guarda-chuva. Só porque não estava mesmo à espera que estivesse mau tempo.
4. O Profeta da Desgraça
Se faz um dia de sol mais quente no Inverno e as pessoas parecem felizes com isso, os "profetas da desgraça" apressam-se a mostrar as previsões de meteorologia que juram que no fim-de-semana seguinte já vai haver temporais (quem sabe um tsunami?). E que durante o mês todo a partir daí o frio não dará descanso. As temperaturas vão baixar tanto que vai ser (outra vez) o mês mais frio de sempre - e estamos a contar com a altura da extinção jurássica.
5. O Acomodado
De facto tem coisas mais importantes em que pensar. Se chove usa chapéu (ou não, se for homem, porque macho que é macho apanha chuva no escalpe e não se importa), se estiver frio reforça a roupa com casacos, luvas e lãs variadas a envolver o pescoço. Nem o afetam muito as temperaturas. "Ah, está assim tanto frio? Nem tinha reparado" respondem eles quando vocês, com uma estalactite a pender do nariz, pedem para ligar o ar condicionado. São os grandes responsáveis pelo enrelegamento de grupos de mulheres inteiras nas empresas.
Eu, a espaços, consigo ser todos. E vocês?
Caro tempo-que-faz,
Começo por te fazer notar que te respeito: não te chamo S.Pedro, como outros. É ridículo que te tomem por entidade religiosa, quando és obviamente laico: bem reparo que às vezes chove nas procissões lá da terra - e ensopar as santas só pode ser piada de ateu.
Depois, ao contrário de talvez todos os outros seres no Universo, não quero reclamar contigo ou insultar-te. É que até te compreendo. Eu própria ando numa fase mais confusa da vida. Uma pessoa nem sempre se sente no seu melhor, nem sempre se sente capaz de seguir as regras, nem sempre se reconhece a si mesmo. É uma espécie de adolescência na vida madura, em que nada parece fazer sentido no que somos ou fazemos – muito menos sabemos para onde vamos e não há plano que nos valha. Juro que percebo.
E agora que mostrei que te compreendo, gostaria que me compreendesses também. Não é que a alternância irregular entre o frio e o calor, a chuva e a seca, me faça assim tanta diferença...
Mas hás-de entender que só tenho um armário para pôr a roupa toda que fui juntando ao longo dos anos . Que desde que juntei os trapinhos (literalmente) nem desse armário me posso servir por inteiro. Que as três gavetas bem negociadas na cómoda não chegam para a roupa de todas as estações ao mesmo tempo. E nem me ponhas a falar de sandálias e sabrinas a conviver com botas no pouco espaço útil reservado ao calçado. É que assim, com estes teus novos hábitos (ou falta deles) não posso mandar roupa da estação passada para os cantos escondidos e inalcançáveis(ou para a casa da mamã). Por aqui também há crise – e é económica – as casas são pequenas e não consegui convencer ninguém que a cozinha devia ser substituída por um closet e jantávamos sempre fora.
Por isso queria pedir-te com muito jeitinho que resolvas de uma vez por todas essa tua indefinição...ou ME DIGAS ONDE É QUE ACHAS EU POSSO PÔR A PORRA DA ROUPA TODA.
Um beijinho,
Maria
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