Na hora de decidir se precisamos de mais um par de sapatos...
...todas as mulheres se vêem como centopeias.
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...todas as mulheres se vêem como centopeias.
Gosto que ele siga na frente ao entrar num sítio que não conheço. Gosto que pague a conta (mesmo que o dinheiro seja dos dois). Gosto que seja ele a perguntar informações. Gosto que decida por mim. É uma espécie de instinto primário que pede proteção e orientação, que me quer deixar entregue a quem mais confio. Embora saiba que só gosto disto porque não me é imposto. Embora saiba que só gosto disto porque no fundo decidimos sempre os dois. Embora saiba que só gosto disto porque sou uma mulher livre e independente e faço muitas escolhas todos os dias. Tivessem todas as mulheres do mundo, o poder de escolher quando, como, onde e sob o jugo de quem, ser conservadoras.
Publiquei ontem esta frase que li num livro com técnicas para reparar corações partidos - é o que faz ter de esperar muito tempo para ser atendida nos CTT. E eu que não tenho trejeito nenhum de feminista (gosto é da igualdade que respeita as diferenças) vi-me a concordar com ela sem pensar muito. Logo depois de me ter rido, claro.
Atenção ao contexto do livro, que é sobre separações amorosas. A frase não quer dizer que a humanidade não precisa de testosterona ou que os homens são uns inúteis (mitos puros que derivam de episódios e espécimes que não servem de exemplo). Não quer sequer dizer - pelo menos da forma que eu a leio - que ficamos tão bem sozinhas, para quê procurar o amor de um homem? Significa apenas que não precisamos que esse amor nos complete. Temos de ser inteiras, por nós. E temos de se inteiras para nos dividirmos. Desta forma o amor é uma escolha e não uma necessidade. O que o torna infinitamente mais valioso.
Há um certo preconceito em torno de livros de amor e filmes românticos. O romance que se vive nessas páginas ou frames, tal como nos contos da Disney, deixam - dizem - as mulheres com ideias irrealistas do que um homem verdadeiramente deve ser e pode fazer por ela. Costuma dizer-se que os contos de fadas as deixam com expetativas elevadíssimas de romance, ao mesmo tempo que a pornografia os deixa a eles com expetativas elevadíssimas de performance e predisposição sexual. Tudo mitos.
Eu sou contra este movimento que acha que os romances deixam as mulheres tolas. As expectativas elevadas conseguimos criá-las sem qualquer auxiliar ficcional, da mesma forma que as desrespeitamos clamorosamente quando um bad boy qualquer sem cavalo branco nem promessas nos consegue tirar o juízo - mesmo que seja totalmente diferente do tal príncipe que foi acordar a Aurora ao palácio depois de não sei quantos anos e sem ligar ao hálito da moça.
Não são os romances que nos fazem acreditar no amor elevado ao sonho cor-de-rosa. Da mesma forma que não deveríamos precisar de uma Barbie Verruga para sabermos que há pessoas com verrugas. Da mesma forma que não acreditamos nos dragões que fazem parte das mesmas peças de fantasia que os príncipes e as princesas (nem o Pinto da Costa já acredita em dragões).
Quer o Mr.Grey desse uma sova à Anastasia com amor (e tesão) ou porque o seu clube perdeu nessa noite e estava tocado a copos, continuaríamos a esperar que um milionário lindo e inteligente e com tiques de playboy se convertesse à monogamia e às subtilezas do amor por nós. Está-nos na natureza, mesmo que não esteja nos filmes a que assistimos e nos livros que folheamos. Por favor atribuam-nos o dom da inteligência e confiem que se, às vezes, não distinguimos as coisas, não é porque achávamos que o Amor em Seattle podia facilmente ser a nossa história de vida (se ao menos morássemos em Seattle e o Tom Hanks fosse minimamente jeitoso), é porque desejar nunca fez mal à saúde e a capacidade de sonhar nos é intrínseca.
Depois, um dia, independentemente de qualquer tipo de ficção, tanto para as que choram com a Anatomia de Grey como para as que vibram com Star Wars, bate-nos a porta um homem que faz canja para nós se estivermos doentes. E afinal, era tudo o que precisávamos para viver o tal amor que nos transporta ao conto de fadas. Afinal os príncipes existem mesmo. E, afinal, os romances não fazem mal a ninguém.
As meninas?
Ou os meninos?
[Os portistas, sei que não serão.]
Em conversa online com um amigo.
Eu: Ai desculpa, esqueci-me de ti.
Ele: As mulheres são todas iguais...
Eu: Deus até nos faz com Copy-Paste, não sabias?
(e usa os atalhos do teclado)
Ocorreu-me numa qualquer conversa com o Moço e apontei no bloco de notas do telemóvel. O bloco de notas do telemóvel serve essencialmente para duas coisas: lembrar-me do que tenho de comprar (açúcar, iogurtes, alho francês) e do que tenho de escrever (tolices minhas, tolices do moço, tolices dos outros). Quando pude dispensar 5 minutos à frente do portátil bati rápido nas teclas: sabia exatamente o quer queria dizer e terminei-o num momento. Publiquei-o sem pensar muito no assunto. E depois a vossa reação foi fabulosa: muitos comentários simpáticos, muitas partilhas, o post mais favoritado de sempre.
E fiquei supreendida porque eu sabia que estava a dizer aquilo que todas nós, mulheres, já sabemos e que os homens até desconfiam.
Mas parece que às vezes é mesmo preciso parar para pensar sobre isto. Nós precisamos de parar e pensar que não estamos sozinhas e que não faz mal sermos assim: complexas e únicas. E eles precisam parar para pensar que todas as mulheres que vão encontrar ao longo da vida são donas desta multiplicidade - e que estão à vontade para ver isso como algo adorável. E que, como sugere a letra desta deliciosa música da Clarice Falcão: loucos somos todos, só temos de encontrar o louco à nossa medida.
A primeira é uma mulher segura. Sabe o que vale e quem merece. Apaixonada pelos seus objetivos. Sai de casa todos os dias de rimel e batom, mesmo que não use maquilhagem. Faz amigos como quem coleciona esferográficas azuis. Liga quando precisa de alguma coisa, discute de viva voz sem se contentar com menos. É direta. Honesta, sobretudo consigo e não se contenta com nada menor que a sua medida do mundo. E o mundo é a sua casa. A aventura o seu modo de vida.
A outra é mais recatada. Pensa no que será o jantar todos os dias. Pensam que é por obrigação, mas fá-lo com gosto: desde de que não a obriguem a usar avental, cozinhar é um gosto. Beija os filhos que vai buscar à escola depois do trabalho. Liga aos pais que quis afastar na adolescência e agora quer mais próximos do que nunca. No dia a seguir, a rotina será a mesma e ela não se importa. Cansa-se, desespera, mas olha para a sua família, assim que o marido acaba de trazer a sopa que fez para a mesa e tudo vale a pena.
A terceira é a rainha do drama. Mesmo que não suba o tom de voz, grita muito interiormente consigo e com os outros. Um cabelo em desalinho pode dar-lhe cabo dos nervos o resto do dia. Amua, sabendo que não devia. Mas amua porque pode e sem saber bem porquê isso fá-la ficar aliviada. Cada vez que a colega lhe traz a pilha de papéis para tratar, sabendo que ela vai sair mais cedo, mas lhe está a trazer aquela papelada já tão tarde, chama-lhe "cabra" muito baixinho.
Esta outra é serena. Racional e bondosa ao mesmo tempo. Vive para o bem dos outros e isso fá-la sentir-se tranquila consigo. Queres sempre tê-la por perto quando há problemas: ela vai pegar-te na mão (mesmo que estejas a quilómetros de distância), emprestar-te um pouco da sua calma e ajudar-te a resolver seja o que for, em detrimento do seu próprio tempo. Compreende até aquilo que os dois sabem que está errado: porque o erro faz crescer e ela sabe que também o pratica muitas vezes. A cor dos seus olhos não interessa: são da cor da compreensão.
A quinta é envergonhada. Às vezes desejava nunca ter nascido. Para quê, para ter aquele corpo? Para estar sozinha ou mal acompanhada? Não sabe onde ir buscar gente nova, mas sente que a antiga já não lhe presta atenção. Comer chocolates e ver um reality show qualquer: aí está o programa ideal. Acha-se invisível nos momentos que precisa de alguém e só encontra solidão. E acha que têm neon na testa quando se sente mal e é vítima dos seus complexos. Precisa de saber que gostam dela todos os dias, porque mesmo que o saiba não tem bem a certeza.
E desengane-se quem acha que estou a falar de cinco mulheres diferentes. Esta é uma mulher só: às vezes a cada semana, a cada hora, outras vezes encontram-se no tempo e no espaço algumas destas. Outras haveria para juntar ao leque. Não somos bipolares ou indecisas. Somos complicadas (mas só em alguns momentos nos ouvirão admitir).
Somos muitas numa e isso pode funcionar para vosso favor ou desvantagem, consoante o saibam reconhecer. Não podem esperar amar uma delas apenas. Não se apaixonem por um ego seguro, esperando que nunca vá gritar convosco por não terem elogiado o tal vestido novo.
Amem-nos inteiras. E poderão esperar o mesmo em troca.
1. Não tens motivos para estar assim.
2. Vá, já chega.
3. Já estás mais calma / bem-disposta?
4. Já te passou?
5. E agora, já se pode falar contigo?
Por mais bem intencionadas que vos soem estas frases, aprendam que as vemos como ofensas veladas. Estão a chamar-nos de ridículas, dramáticas e apoquentadas - e muito embora tudo se aplique, não queremos saber.
Sob prisma nenhum nos acalmam, no entanto, podem fazer-nos ficar de todas as cores, emitir sons de chaleira a ferver, gritar impropérios, cuspir serpentes venenosas e chamas ocasionais e intensificar ou recuperar toda a indisposição de que vocês esperariam já se ter livrado.
Considerem-se aconselhados: nunca na história da humanidade estas deixas resultaram.
Este artigo do Mic.com deixou-me a pensar. Eu também sou uma moça sem papas na língua - educada mas de resposta sempre pronta. Mas às vezes, o sexismo, o racismo, a discriminação em geral surgem quase sem nos apercebermos. Há expressões, perguntas, temas que não pomos sequer em causa que se pronunciem ou dirijam a uma fatia de pessoas em particular. Estas senhoras souberam identificá-lo (ao preconceito velado e aceite pela sociedade) e responderam prontamente. Só classe. Talvez com exceção da porca-da-Scarlett (desculpem não consigo dizer o nome dela em acrescentar a-porca-da) que tem sempre aquele ar de ordinária mesmo quando fala muito a sério e responde bem. Sim, é inveja.
É esta a pergunta que fazem à Hillary, depois de ela discutir como as mulheres são mais vítimas de julgamento consoante a sua aparência. Ela não deixa passar em branco o paradoxo.
Como é que a Jennifer Garner equilibra a vida familiar com o trabalho? Pois, parece que ela não é a única que trabalha e tem família. Palmas para a Jen, a minha eterna Vingadora. E já agora um abraço apertado para o gostoso do Ben.
Perguntas sobre dietas à vencedora de um Óscar Anne Hathaway? Tudo bem. Toma lá que já almoçaste.
Ao ator que encarna Tony Stark em Avengers, perguntam como ele se preparou psicologicamente para o papel. à porca-da-Scarlett perguntam se ela fez alguma dieta especial para encarnar a Black Widow. Querem ver a magnífica resposta?
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