Não somos latas de sopa
Temos a mania de definir os outros por aquilo que lhes é exterior. O trabalho, uma doença, qualquer coisa.
A Marina, a florista.
A Isabel, que teve cancro.
O Felipe, que é surfista.
Vícios que vêm do tempo dos reis talvez, quais cognomes que nos identificam. Uma palavra que nos reduz a uma característica.
Pois o que nós somos é todo um conjunto de coisas muito para além daquela que se destaca. E mais, é a forma como lidamos com isso ou que nos fez chegar lá, que nos define. As intenções, as reações, as motivações, as aprendizagens. As floristas do mundo não são todas iguais, mesmo sendo todas floristas.
Não somos latas de sopa, raios. Não é ler o rótulo que diz Sopa de Tomate e já sabemos tudo.
E o mais grave é quando somos nós próprios que nos reduzimos a uma característica só e nos definimos em função do que fazemos e não do que somos. Ser mãe não chega. Ser esposa não chega. Ser profissional não chega. Ser aquela que isto-ou-aquilo não chega. Uma palavra não chega. Porque há tantas coisas diferentes que dão sentido à nossa existência.