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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

07
Jun17

#videomaria: há coisas que nunca mudam

Maria das Palavras

Este é um dos filmes a concurso na edição do Festival de Cannes deste ano. Está em francês mas vale a pena ver - apenas no caso de serem pais ou filhos (portanto no caso de toda a gente). Muito jeitoso. Se tiverem curiosidade em ver o top 20 dos candidatos a Leões no Festival, selecionados pela Gunn Report, cliquem aqui.

 

 

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27
Nov16

Vou processar a minha mãe.

Maria das Palavras

A minha mãe não fez um curso para o parto (convenhamos, se fosse para ter formação teria de ser antes uma de planeamento familiar, visto que eu fui feita na noite de núpcias). Não me teve num hospital privado onde o meu pai pudesse ficar (desconfio que ele não queria), nem sequer visitou antes a ala da maternidade, foi assim ao Deus-dará, feita maluca. Ferveu os biberões no tacho (e hoje em dia nem os esterilizadores de microondas servem, têm de ser elétricos). Passava-me a sopa com varinha mágica, a bestinha (aposto que ficava cheia de grumos). Nunca me pôs em cima de um muda-fraldas, o que torna para mim um mistério saber se andava sempre toda borrada - será que nem fraldas tinha? Ou melhor, é possível não ter muda-fraldas e as crianças fazerem cocó na mesma? Fiquei escandalizada quando me disse que nunca me comprou uma forra de ovo que supostamente apoia a cabeça e protege mais do frio. Ainda nem estava preparada para a bomba: filha, nunca tiveste isso do ovo. O meu carrinho não era trio, era só normal, não tinha manhas de transformer. Aqui culpo o meu pai, pelo triste veículo. Secretamente, também o odeio por não ter trocado de carro dele porque teve uma filha. Era mesmo a 4L e pronto, nada de carrinhas com 9 lugares. E sabem quem me tirava as fotografias? O MEU PAI. Foram incapazes de contratar alguém para me registar momentos num ambiente normal para uma criança (como um ninho de palha ou um ovo da páscoa). 

 

Transporte de bebé - Imagem Pixabay

 

 

Ter um filho não exige a disponibilidade monetária ou a preparação exímia que hoje em dia todos nos vendem como certa. Não precisamos comprar tudo o que está na Chicco (e as outras mães têm) e, sobretudo, não precisamos ser perfeitas ou saber e sentir o que está pré-definido por terceiros. O que mudou não foi a necessidade do bebé. Foi - em muitos casos - a pressão da sociedade. Ninguém pode ter um bebé sem um quartinho montado em cores pastel.  Ninguém pode ter um bebé sem sentir que nasceu para ser mãe. Mentira.

Estou mais que ciente que vou comprar e fazer muita mariquice desnecessária um dia que vá ter filhos (sobretudo as mariquices que poupam tempo e dores, que nos dão segurança real ou imaginária), mas quis escrever este texto para servir de lembrete: Maria, não é preciso. Também a "lei" manda ter cortinas em casa e eu nunca as tive, nem fui menos feliz por isso. 

A minha mãe não teve metade das coisas que hoje são "essenciais" e sabe-se lá como, eu sobrevivi. Pensando bem, não a vou processar. Vou-lhe agradecer.

 

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08
Nov16

A visita de um filho emancipado a casa dos pais.

Maria das Palavras

Ir a casa dos pais, na idade adulta, é uma experiência bipolar das mais capazes. É maravilhoso e penoso, tudo ao mesmo tempo. Ali estão as duas pessoas (na generalidade) que nos criaram e a quem tão bem queremos (quem nos dera fossem eternos). As que melhor nos amam e...melhor nos irritam (mas isso é em qualquer fase). Qualquer pessoa em idade adulta reconhecerá o relato das principais fases de uma visita normal a casa dos pais.

 

A chegada
Aliás a visita começa sempre com aquele telefonema do "nunca nos vens visitar". E sim, estiveram lá ontem. Quando aparecem na ombreira da porta identificam logo aquela expressão acompanhada por um sobrolho franzido, que varia entre o "engordaste!" ou o "filha, estás mais magra". Se eu estivesse mais magras de todas as vezes que visitei os meus e mo disseram pesava neste momento 100 gramas bem contados. Nem precisava esperar pelo Expresso para Leiria só pela próxima rajada de vento no sentido Norte.
As mães ainda podem acrescentar "o que é que fizeste ao cabelo" ou "não tinhas isso!" apontado para a peça de roupa que temos há cinco anos.

 

 

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A refeição

Claro que a fatia dos pais que acusa os filhos de terem engordado não deixa de lado o contraditório ritual "enche-bucho". O ritual começa quando te enchem o prato à maluca porque "lá na cidade não tens disto", passa pela repetição que tentamos veementemente negar porque estamos mais do que cheios mas eles querem que continuemos a comer. E quando já repetimos dez vezes e nos esforçamos por mastigar só mais um bocadinho porque até fizeram (fazem sempre) o nosso prato favorito e não queremos parecer ingratos ouvimos um "estás a comer que nem uma esfomeada, logo vi que tu por Lisboa não andavas a comer bem". FOSTE TU QUE ME ENCHESTE O PRATO DEZ VEZES!

 

 

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A partida

Podem ter lá passado lá uma semana, mas eles despedem-se chorosos porque nunca passam lá tempo nenhum. Atafulham-vos os braços com 30 alfaces arrancadas do quintal e 7 frangos do campo, além dos 23 tupperwares com restos dos almoço (que nunca regressarão à terra). Vocês dizem que sozinhos não conseguem comer tudo. Dizem que congelem. Vocês dizem que o congelador não tem espaço para 30 alfaces e 7 frangos do campo, mais os tupperwares. Eles já não dizem nada, mas vocês levam tudo na mesma. Depois despedem-se com aquele "até para o ano" irónico como quem diz que nunca aparecem - só porque anunciaram logo que no fim de semana seguinte iam estar fora e não podiam lá jantar.



É assim uma visita a casa dos pais: todo um trauma. Mas que abençoado trauma. 

 

 

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13
Mai15

A culpa é dos pais?

Maria das Palavras

Vou comentar o vídeo do momento, sobre as duas miúdas que batem no rapaz, só porque vejo muito boa gente no Facebook a atirar rapidamente um "a culpa é dos pais".

Queria dizer que, sim, somos produtos do meio em que fomos criados, mas há muita coisa que contribui para a nossa formação e gosto de acreditar que há algo de nosso na forma como bebemos e vivemos o mundo. Isto sem querer entrar em teorias psicológicas e sociológicas de geração de personalidade, onde há correntes para todos os gostos.

Mas uma coisa é certa: já conheci pessoas, com quem inclusivamente andei na escola, filhos de gente malcriada e violenta, outros literalmente criados entre as vacas. E não tinham o mau génio destas catraias (e dos que os acompanham). E já conheci gente de berço de prata (ouro é demais para mim) que são filhos da mãe do pior. E conheço irmãos, filhos dos mesmos pais e da mesma educação em que um é mais que decente e o outro uma besta.

 

Com isto não quero excluir que a culpa seja dos pais. Não quero dizer que não possa haver ali muita educação em falta. Mas já agora, só por brincadeira, vamos por a hipótese que até pode não ter nada a ver. Que a maldade também pode ser inata ou aprendida noutros circuitos - já que as crianças não crescem em bolhas.

 

[Nota adicional: Aquele vídeo é deveras estranho, só a mim é que parece que o garoto estava a alinhar numa espécie de brincadeira para a câmara? Pelo menos de início?]

 

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05
Jan15

Quando for mãe

Maria das Palavras

[E acalmem-se as hostes porque não está para breve. Mas às vezes apetece-me tirar notas.]
Quando for mãe, sei que provavemente não terei esta virtude que tem a mãe do Miguel e da Maria. A da paciência infinita que a faz não cair no facilitismo de responder à filha que lhe pergunta quando volta a ser Natal com um "uiii, anda falta muito", "até lá não te doa a barriga" ou "não penses nisso que chegamos lá num instante outra vez". Mas gostava.

"(...)no regresso ela perguntou-me quando era natal outra vez: eu expliquei-lhe todas as coisas que iamos fazer antes de ser natal outra vez. que ela ia fazer 4 anos. o miguel 3. que iamos brincar na praia e comer bolas de berlim. que a prima ia começar a andar e a falar. que iamos ver muitos filmes de princesas e piratas. brincar no parque e fazer amigos novos. que ela ia aprender muitas coisas. que o miguel ia ficar mais alto e conseguir acender a luz sozinho. e ela ia aprender a andar de bicicleta ainda mais depressa. lá fora estava escuro e frio: dentro no carro que nos embalava conseguíamos todos ver a lua: parecia um sorriso. e depois de pensar em todas as coisas que eu lhe disse ela respondeu:"então eu espero".

No imperdível Eu, ele e a Maria.

 

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