Passas por procuração
A minha mãe comeu mais 12 por mim. Tanto melhor.
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A minha mãe comeu mais 12 por mim. Tanto melhor.
Sou capaz de já vos ter dito que começar o ano a comer passas - uvas podres, portanto - e achar que isso trará sorte, para mim faz pouco sentido. Ainda se fosse uma frutinha fresca e suculenta, lá se daria o toque de partida certo... Mas como não sou minimamente supersticiosa ou capaz de acreditar em algo que não possa apalpar (o que às vezes é uma pena, porque bem me dava jeito bradar aos céus e esperar milagres que punha na mão de qualquer entidade), não como as passas - nem outra fruta mais vitaminada, nem peço desejos.
Para mim as 12 passas são antes as 12 coisas do ano anterior que eu quero que passem:
#passa depressa radicalismo (de qualquer um dos lados) que leva à guerra e à instabilidade (dentro e fora do país)
#passa já ò desemprego (de gente que quer e merece, que não é igual a gente pseudo-qualificada)
#passa moda das campanhas de beleza "real" (às vezes não são reais, às vezes não são desejáveis)
#passa preguiça, a ver se mexo o rabo e meto em qualquer coisa fit antes da fase da decadência
#passa lá, mania que eu tenho de escarafunchar a cara à procura de borbulhas
#passa tempo, até ao dia em que aquilo que eu cá sei (x2) está resolvido de uma vez (com futuro lançado e presente risonho)
#passa falta de "disponibilidade" para viajar
#passa lista de livros para ler (sê devorada e substituída por novos)
#passa sempre chuva e vento, deixa só o frio moderado da mantinha e do chá mais um pouco
#passa inércia desgraçada, que me faz adiar sempre pôr creme na cara ou no corpo (ponho sempre amanhã, que hoje não tenho tempo)
#passa incerteza que não me deixa fazer os planos que eu gosto
#passa lá ano velho e traz novidades que eu nem espero (podem ser todas boas?)
Não se acanhem. Deixem as vossas #passas.
Não como 12 uvas podres passas à meia-noite.
Não basta a perseguição que nos fazem na passagem de ano, ainda têm de me minar o Dia do Bolinho.
Como contei, na minha terra (e no meu tempo) o 1 de Novembro é o Dia do Bolinho e é com essa premissa que pedimos doces às tias - que aqui não são as queques de Cascais, mas as velhotas simpáticas que sabem amassar bolos. Reza a tradição quer eram bolinhos ou merendeiras que se davam nesse dia, mas felizmente já na minha altura eram mais doces.
Ainda assim, quem sabe fazer bolinhos, fá-los nessa altura: broas de mel, merendeiras de noz, bolinhos de abóbora ou batata...
A minha mãe veio a Lisboa e trouxe-me um saco cheio deles, de várias origens (várias tias).
Problema? As passas. As malditas passas que me transformam num esquilo a desfazer cada bolinho aos bocados para não provar nenhuma. Quem as ache boas, que as coma. A mim estragam-me a experiência desta deliciosa broa de mel a acompanhar o chá da tarde.
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