O problema das campanhas de beleza real
É que é irrealista esperar que o mundo se pinte ou deixe de se pintar para nós. É que temos de saber distinguir o que importa para além do batom e da sombra dos olhos, sem exigir que ela deixe de estar lá.
O importante é que qualquer que seja a campanha nós saibamos que nem todas as mulheres são tão perfeitas como aparentam, mas também que saibamos lidar com o facto de algumas estarem esteticamente muito mais perto da perfeição (sem artifícios) do que nós - e que isso não faz mal.
Não deveria ser um problema que as modelos e atrizes (e colegas de trabalho!) se produzam e se mostrem no seu melhor, tal como nós também podemos tentar fazer, com maior ou menor sucesso, com a certeza que não é isso que nos define.
O problema é que estas campanhas sejam necessárias. Ou que achemos que sejam. Quando mesmo fora das folhas das revistas temos de lidar com gente mais bonita e mais elegante ou bem torneada que não podemos censurar ou pedir com força que deixe de existir. É que mesmo sem produção (digital no ecrã, manual na cara e nos cabelos e nas unhas) vamos sempre ver pessoas mais bonitas e mais feias à nossa volta e querer encaixar-nos nalgum lugar. É com isso - com a diferença - que temos de saber lidar. Sem nos sentirmos mais ou menos.
Saibamos, sim, que bonito e feio vai além da capa. Que gordas, magras, simétricas ou desdentadas todas temos algum tipo de beleza. Mas também que agora que a Dove e a Pirelli e a Alicia Keys já nos disseram que não é preciso ter-se vergonha de mostrar exatamente o que somos, não percamos de vista também que não faz mal que nos tentemos valorizar (de forma equilibrada) e que podemos viver de bem com quem se valoriza.