Dizem que ontem foi o dia do Riso. Foi? Se foi mesmo, este post onde reúno textos pseudo-engraçados ou bem-humorados vem mesmo a calhar, embora atrasado. Se não foi, que se lixe, tentem lá esboçar um sorrisito na mesma, com este cardume de textos (cardume é com licença criativa). Como às vezes é para rir de mim e não comigo, pode ser que consigam. Senão riam-se da minha mania de querer ser engraçada, sem ter pontinha por onde se lhe pegue. E há mais parvoíce no Instagram @mariadaspalavras.
Queria agradecer aos meus pais, ao meu agente (eu), e aos verduscos mais fofos cá do bairro que me atribuiram um Óscar do LOL pela minha obra relativamente ao síndrome do óculo ordinário. Deixo ainda uma palavra aos restantes vencedores - todos eles merecedores de puras gargalhadas, com textos sublimes a serem lidos. Tenho bastante certeza que não há Nobel da escrita que alguma vez possa ganhar que ultrapasse esta honra, quando ainda sou apenas uma desconhecida cidadã do mundo - muito embora tenham posto logo de lado a entregas de estatuetas, o que acaba por ser de mau gosto. Continuarei na luta pelo movimento #progargalhada e é bom ver assim reconhecidos os meus esforços.
E juro que, hoje em particular, estou vestida a rigor para a passadeira vermelha - as orelhinhas não me deixam mentir. Talvez não seja a fatiota mais apropriada para uma blogger premiada...mas quem manda escolher a menos in?...
Rir. Daquele riso que vem e fica tanto tempo que nos esquecemos o que era afinal tão engraçado. O riso que transborda em lágrimas e faz doer muito a barriga. Que começa estridente, pega com espasmos e acaba numa careta contraída e silenciosa. Que nos põe no chão a rebolar, mas nenhum ROFTL consegue transmitir. Que fica ali suspenso ainda durante uns minutos depois da última gargalhada e nos faz largar outra vez a rir com uma simples troca de olhar com um cúmplice de riso. Que faz o meu pai olhar para mim, muito sério, com ar "já chega, não"?
Nem toda a gente se ri do mesmo, é certo. Há gente que - imagine-se - nem se ri de si própria.
Eu, bem dependendo do estado de espírito (claro) consigo achar graça a quase tudo. Confesso que tenho uma predileção especial pelo humor negro, até porque sei que não está ao alcance de todos compreender o riso terapêutico, descomprometido, desligado e gosto de me sentir especial (ou um ser horrível, depende do ponto de vista). Também gosto do humor subtil e irónico, do humor inteligente (sem ter a audácia de achar que o compreendo sempre). Gosto do humor atrapalhado da vida real que se assemelha a uma tragicomédia, cru, sem refinamentos.
E depois há aquele tipo de humor de que o meu amigo se estava a ouvir às gargalhadas. Gargalhadas honestas e profundas. E eu quis saber e rir-me com ele. Era uma sequência de um tipo a apanhar choques elétricos. Mexia em pequenos gagdets e apanhava choques - só isto. O mesmo humor de escorregar em bananas e cair. De ir contra um poste. O humor do palhaço que te pede para cheirar a flor e te borrifa com água. Esboço um sorriso ligeiro.
Há humor e humor. E confesso que no humor físico sou um pouco limitada.
[O que vos faz rir? Não se coíbam de deixar exemplos nos comentários.]
Vieram vocês, com a mania da grandeza, explicar-me com grandes sermões que uma pessoa se deve rir (por escrito) com ahahaha e não hahahaha. Que estúpida que eu era, diziam as vozes em coro, a rir-se de mim em ahahahaha apontando com o dedo daquela forma que dizemos às crianças que é feio - sou capaz de estar a exagerar, mas não garanto. E eu, triste, pelo engano de uma vida, fiz uma mudança mais radical que o corte de cabelo "à joãozinho" nos idos anos 90 e alterei a forma de gargalhar em textos. Para uma blogger de renome como eu, lida por mais de duas pessoas quando chove e não lhes apetece ir passear para sítios nomeadamente alguns, é uma questão de identidade e estatuto. Agora vem o Facebook com os novos botõezinhos de reações e espeta logo com haha para começar. E agora, hein? Que dizem às minhas ilusões desfeitas? Onde param as vossas mentiras? É que está na Internet. E tudo o que está na Internet é verdade. [só que não]
Sempre gostei do tom destes comediantes, mas confesso que quando me sentei na cadeira, depois de um dia cansativo, refleti bem e disse "acho que não me vão fazer rir". Depois aconteceu de tudo neste espetáculo de improvisoonde o César Mourão é rei, e em dia de aniversário do Ricardo César: desde beijos na boca do Carlos Cunha a dois membros do público (de géneros diferentes), a um casal que estava lá por engano (achava que ia ver o Diogo Infante e a Alexendra Lencastre - palavra). Tudo serve para fazer comédia e apesar da estrutura bem ensaiada, com acompanhamento de banda ao vivo, é o público que lança todos os temas, pelo que ir dez vezes a este espetáculo será ir dez vezes ver um show diferente. Depois de mais de duas horas a rir a bandeiras despregadas, estava literalmente enjoada e de maxilar dormente. O bilhete de 16€ que inicialmente parece caro, fica a menos de 13 cêntimos por minuto (e ouve-se bastante melhor que uma chamada internacional). Não digo para irem: fica por vossa conta e risco, está bem?
Tanta alarido, manifestação, eventos de facebook, em prol dos bisontes roxos ou linces de pinta triangular (ou outros animais em vias de extinção) e ninguém vem em defesa do riso? Mais, da gargalhada!
Daquela que vem e fica tanto tempo que nos esquecemos o que era afinal tão engraçado. O riso que transborda em lágrimas de cascata e faz doer muito a barriga. Que começa estridente, pega com espasmos e acaba numa careta contraída e silenciosa. Que nos põe no chão a rebolar, mas nenhum ROFTL consegue transmitir. Que fica ali suspenso ainda durante uns minutos depois da última gargalhada e nos faz largar outra vez a rir com uma simples troca de olhar com um cúmplice de riso. Que faz o meu pai olhar para mim, muito sério, com ar "já chega, não"?
Avencemos com soluções, mobilizemos a população. Vamos abrir os sorrisos tímidos, converter as lábios caídos em curvas positivas, às vezes fingir alegria na esperança de nos contagiarmos - a nós e a outros. Vamos partilhar anedotas, imagens do (não) pescoço do Marco Horácio, o vídeo da queda aparatosa da tia Adelaide (que graças a Deus não se aleijou). Vamos rir por tudo e por nada em busca da gargalhada perfeita e profunda, prazer inexplicável, olhos brilhantes, caras feias, felicidade apesar de tudo, naquele momento puro e completo em que tudo mais se apaga.
Juntem-se a mim. Partilhai por esses blogs e facebooks afora a hashtag #progargalhada e provoquem-na. Proliferem-na. Empurre-na para a vida das pessoas. Não matem a gargalhada, ressuscitam-na, salvem-na. E aos bisontes roxos também, claro.