O Moço janta sopinha saudável praticamente todos os dias. Já eu...sou aquela desgraça a que já estão habituados. Quer dizer, gosto da sopinha de vegetais e no primeiro dia, a fervilhar, acabadinha de fazer, até me delicio com ela. E depois ataco bifes, arroz com feijão, massas com quadradinhos de brie e toda a espécie de porcarias porque - pensando que não - já fui ao ginásio 3 vezes este ano e o metabolismo não pode ir abaixo.
Ora este semana estava assim meio murchinha, enjoadinha, não me apetecia nada...com exceção de...sopa de feijão! Daquelas com batatinha a boiar e massinhas e rodelas de chouriço e tudo. O Moço voluntariou-se para fazer a sua primeira sopa de feijão por mim (a da foto) e eu procurei uma receita para ele seguir que me parecesse de acordo com os meus desejos e sobejamente simples.
Ou a culpa foi minha, que lhe dei uma receita que é mais "um pouco disto" e "q.b. daquilo" em vez de "20 cotovelinhos bem contados" e "600 ml de água", ou ele quis vingar-se por eu lhe fazer sopa para ele comer todos os dias e eu nem sempre a comer sempre com ele. Sei que tenho agora um tacho minadinho de feijões e massas gordas e o caldo, saboroso, mas quase inexistente, tem que ser acrescentado de cada vez que quero um prato. É seguro dizer que hei-de estar a comer esta sopa para aí até Março de 2019. Que é para aprender.
[deixo-vos com o clássico dos clássicos relativamente a músicas de sopa para ilustrar este texto]
Fiz uma sopinha para o jantar: Eu não gosto de provar comida (gosto de comer à séria) por isso dei-lhe a ele uma colherzinha para verificar o sal. Disse que estava ensossa. Fiz um ar desconfiado (estava bastante convencida que tinha acertado na dose, já disse que não sou a pessoa mais humilde mundo?) e juntei mais sal.
Eu: E agora? Ele: Humm..acho que está na mesma. Eu: Estás doido. Não pode ser. Não ponho mais sal nenhum.
Sentamo-nos para comer a sopinha.
Eu: Afinal a sopa está ótima! Até tem mais sal do que é costume usarmos! Ele: Tens razão...à primeira colher se calhar não provei suficiente para ver. Eu: E à segunda? Disseste que estava na mesma! Ele: Achei que era uma armadilha. Como quando as pessoas dizem que mudaram, mas está igual e é só um teste para ver se te enganas e dizes "agora está muito melhor" quando está na mesma.
(já agora, "esquemas" é o meu nome do meio, aparentemente)
É Sábado e prepara-se a sopa do costume para o jantar. Desta vez leva feijão verde que se trouxe lá de cima da terra, mais verde, mais aromático, mais tudo. E é quando o começo a cortar e o feijão verde (não a mostarda) me chega ao nariz que me vem à lembrança o meu avô. A horta junto à fonte onde juntos colhíamos o feijão verde e as favas - pelo menos no tempo que eu não perdia a a esconder-me entre e vegetação ou que não estava inclinada a beber a água da fonte. Para mim era uma brincadeira, não era trabalho. E depois, debulhava para um balde preto as favas com a minha avó (também havia ervilhas, lembro-me agora que escrevo sobre isso). E ela - só ela, que eu era pequenina e desajeitada para mexer nas facas - cortava o feijão verde em tiras finas para a sopa.
E agora por causa de estar a fazer a sopa e me cheirar à verdura cortada da minha infância tenho este quente-e-frio no coração. Vou ligar à minha avó e perguntar se ela também se lembra disto. Claro que lembra. Que felizes que fomos com o meu avô.