A blogger menos in do pedaço #98
Ainda não andei de Uber.
Nem de Cabify.
Nem de MyTaxi.
(pensando bem no assunto, eu só ando mesmo é a pé, de metro ou de MyMoço).
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Ainda não andei de Uber.
Nem de Cabify.
Nem de MyTaxi.
(pensando bem no assunto, eu só ando mesmo é a pé, de metro ou de MyMoço).
Os taxistas têm os seus pontos de razão: a Uber opera com benefícios fazendo uso de um vazio legal, mas...eles fazem todas as coisas erradas para lidar com isso, em vez de aproveitarem para mostrarem que podem ser melhores (nem que seja a nível da educação australopiteca - salvo honrosas exceções, que profissionais bons e maus há-os em todas as áreas). Mas este post nem é bem sobre isso. Sei que a altura de falar sobre a polémica já passou. É mais porque o Moço contava a um colega, pró-taxista, que temos sempre apanhado taxistas que ou falam mal para nós ou nem falam para dizer boa noite e ele respondeu que talvez fosse ele, o Moço, que falava mal para eles.
Isto é de merecer uma gargalhada sentida. Para já, quem conhece minimamente o Moço sabe que ele só é bruto se lhe calcarem bastante os dedos mindinhos. Então assumir que ele entra no táxi e debita logo brutalidade ao ponto de mudar o mood outrora harmonioso do motorista é de loucos. Se calhar, o colega do Moço, acha que "falar mal" é pedir ao taxista para ir até uma localização que não apeteça ao senhor (ou pedir fatura). Portanto - e notem que isto não é contra os taxistas, mas apenas uma resposta ao comentário do colega do Moço - eis a sugestão do que o Moço deveria fazer ao entrar no Taxi, para não estar a "falar mal" ou melhorar o nível de educação e simpatia com que normalmente o meu rapaz já fala para os senhores taxistas que nos transportam. Partilho, porque talvez também andem a ser uns animais e pode ser-vos útil o guia de conversação.
"Muito boa tarde! Peço permissão para falar.
[permissão dada]
Estou aqui no aeroporto, lamento desde já por lhe ter entrado no táxi, sendo português, e ainda por cima sem bagagem. Gostaria de o compensar colocando o meu molho de chaves na bagageira, para que possa cobrar-me a taxa de bagagem.
[sai do táxi e vai colocar as chaves na bagageira]
Vou ali para Telheiras, mas sinta-se à vontade para ir via Barreiro, para ser mais aceitável para si o exercício de locomoção. Ah! Trouxe-lhe uma pequena lembrança de Paris, onde estive.
[passa-lhe um CD]
Aqui está um álbum best of do Art Sullivan. Caso goste, sinta-se à vontade para o pôr a tocar, em qualquer volume, durante o percurso. Mas não quero que se sinta limitado, oiça o que bem entender, ou vá a falar ao telemóvel - até lhe empresto o meu, se quiser, que tenho daqueles tarifários que não se paga mais.
[motorista prepara-se para arrancar]
Espere, espere.
[Moço tira um maço do bolso]
Tome aqui um cigarrinho para ir relaxado. Obrigada pela honra que me dá em ser seu passageiro e prometo a partir de agora falar apenas se quiser comentar a última jornada."
Ontem apanhámos um táxi do aeroporto para casa, já tarde e a más horas. Sem outra bagagem que não as nossas pequenas mochilas dirigimo-nos logo para o banco de trás.
Eu entro no táxi e digo boa noite. O taxista nada.
O Moço entra no táxi a seguir a mim e diz boa noite. O taxista nada.
Os segundos passam-se e o taxista nada, o carro parado à frente do aeroporto. Olhamos um para o outro, encolhendo ombros, tirando a conclusão óbvia (ninguém é TÃO mal-educado, o taxista só pode ser mudo) e o Moço anuncia o destino.
A viagem passa-se no silêncio mais absoluto.
Quando chegamos à nossa rua o taxista também não pede novas indicações e aguarda calmamente pela nossa instrução de parar. Encosta. O Moço perde um bocado a encontrar a carteira e quando finalmente a encontra pergunta (apesar de estar bem visível no taxímetro): quanto lhe devemos, então?
E aí aconteceu: um quase inaudível "oito euros". Pagámos, saímos ouvindo desta vez um "boa noite" baixinho, que respeita a calada da noite, em resposta ao nosso cumprimento final.
Foi aí que finalmente percebemos. O taxista já não podia ser mudo - afinal falou. Era budista e tinha feito um voto de silêncio que o obrigámos a quebrar. Sentimo-nos pessimamente, mas de alguma forma, conseguimos acalmar-nos e dormir bem nessa noite.
[Tem de ser não é? Tem de ser budista, certo? Afinal os taxistas já passam por tanto, com os riscos que correm à noite e com sabe-se lá que tipo de passageiros, com a concorrência da Uber que não paga todas as taxas que eles têm de desembolsar...não iam ser hostis para dois passageiros com ar simpático que vêm do aeroporto só porque são portugueses e nem trazem bagagem para pôr na mala e se cobrar mais uma taxa adicional por isso. Certo?]
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