Também quero escrever uma carta ao Pai Natal
Seu gordo pindérico,
Sei o que fizeste no Natal passado. Aliás, em todos os Natais passados. Andaste a gravar anúncios para a Coca-Cola, a encher esse bandulho à custa de uma grande empresa, enquanto ignoravas todos os pedidos que te faziam à volta do mundo.
No outro dia vi-te, à entrada de um desses mercadinhos de Natal, ao pé da feira de Alverca. E estavas a escolher prendinhas nas bancas de artesanato? Ou mesmo na feira ao lado, com os ténis da Reboque a 12€? Não, estavas a acenar a todos. Feito presidente da república. As crianças até pararam de saltar no insuflável, de olhinhos brilhantes a ver o homem que lhes dá as prendas - tão enganadas que elas estão.
E olhavas para o lado a contar piadas a quem achas que te deve devoção:
- Sabem porque é que não dou prendas aos meninos em África? Porque eles não comem a sopa! OH OH OH.
Admite de uma vez. Tu não dás prendas a ninguém. O pai e a mãe é que compram as prendas, os senhores dos CTT é que respondem às cartas. Tu? Nem tomas contas dos teus. A tua rena anda constipada há anos a fio, com aquele nariz vermelho e tu não dás pevide, nem pegas no trenó para a levar ao médicos. Os teus duendes? Aparecem aí congelados de frio, que nem se mexem, nos jardins das pessoas...
Se não fossem os meus pais e o Moço, sabes há quanto tempo eu não tinha um perfume novo? Se dependesse de ti, andava aí só a cheirar a água de rosas e sabão azul. O que conseguisse juntar. Muita gente, por quem passo diariamente, nem sabão azul, informa-me o meu nariz.
Lê bem com atenção: tenho cópias desta carta prontas para seguir para todas as redações de jornais do país. Se pelas 20h do dia 20 de Dezembro não tiveres feito um comunicado ao país a repor a verdade - a César o que é de César, aos pais o mérito por gastarem uma porção preciosa do seu dinheiro para dar uma prendinha aos seus filhos - serei eu a denunciar de forma crua a tua malícia. O teu engodo.
Pai Natal: tens sido um mau menino.